Artigo
Alcoolismo. Afinal o que ? isto?
::: 30/09/2002

"No in?cio, bebia no fim-de-semana. Tomava cerveja, cuba, u?sque. Comecei a beber depois do trabalho, na sexta-feira j? n?o ia, porque sa?a para beber. Na segunda-feira, falhava porque tinha ressaca, des?nimo."

Adapta??o de depoimento

Existe muita controv?rsia a esse respeito, entretanto ? consenso que:
  1. Alcoolismo ? uma doen?a.
  2. O alco?latra pode apresentar preju?zos relacionados com o uso de ?lcool em todas as ?reas da vida (preju?zos f?sicos, mentais, morais, profissionais, sociais, entre outros).
  3. O alcoolista perde a capacidade de controlar a quantidade de bebida que ingere, uma vez que vence a ingest?o (depend?ncia qu?mica).
Muitos estudiosos consideram o alcoolismo como doen?a cr?nica e progressiva manifestada pela ingest?o repetida de bebidas alco?licas com dificuldade de absten??o e perda de controle, causada quando o indiv?duo come?a a beber, desencadeando dessa forma problemas biopsicosociais.

Todo alcoolista apresenta tr?s caracter?sticas b?sicas atrav?s das quais pode se detectar a doen?a.

  1. Nega??o da doen?a: o doente nega que bebe. Quando chega a admitir que bebe, diminuiu a quantidade (diz que bebe menos do que bebe realmente)
  2. Proje??o: sempre tem motivos para beber, sejam de tristezas ou de alegrias
  3. Onipot?ncia: diz que para de beber a hora que quiser Enquanto o indiv?duo apresentar esses mecanismos est? sob o dom?nio da doen?a.
O indiv?duo, uma vez alco?latra em abstin?ncia, dever? manter-se em estado de alerta o resto da vida, pois ser? sempre um dependente, evitando o ?primeiro gole? que poder? desencadear uma reca?da, vindo a se tornar novamente um dependente. Mesmo desintoxicado, em aus?ncia de sintomatologia cl?nica, continua um etilista enquanto sentir um desejo incontrol?vel de ingerir bebidas a alco?licas.

Os alcoolistas n?o voltam a ser bebedores sociais e com freq??ncia tem reca?das.

Preju?zo psicosocial do alcoolista
A partir do momento em que o alcoolista passa a depender do ?lcool e n?o pode decidir o quanto vai beber, passa a ter uma vida regida pela depend?ncia, pela necessidade de continuar bebendo e de evitar os sintomas da priva??o do ?lcool. Submetido a essa depend?ncia, passa a ter preju?zos nas ?reas de sua vida f?sica, psicol?gica, familiar social e moral. Os preju?zos decorrentes da ingest?o de bebidas alco?licas v?o aumentando e o alcoolista utiliza, como defesa, todos os recursos para que nada se interponha entre ele e o ?lcool: amea?a, promete, seduz e mente.

De um modo geral, o alcoolista ? inseguro, t?mido, geralmente aparecendo quando est? em situa??o que lhe obrigue a exercer atividades. Como exemplo, podemos citar o alcoolista frente ao casamento. Muitas vezes n?o est? preparado para assumir as responsabilidades de uma fam?lia.

Ao iniciar sua vida conjugal, bebe mas n?o cria problemas. A seguir o alcoolismo se exacerba, pois um dos fatores respons?veis ? a rela??o com a esposa, na qual espera encontrar ajuda para as suas necessidades insatisfeitas e de quem pode depender.

O alcoolista passa por situa?es de ang?stia e tens?es quando sente-se inferior social, emocional e sexualmente. Atrav?s do ?lcool, descobre as facilidades e dificuldades que a intoxica??o lhe oferece para estabelecer contato com os outros, assim como exerce efeitos desinibidores tanto agressivos quando sexuais, reduzindo as sensa?es desagrad?veis, que passam no momento.

Cada um age de uma forma
A conduta do alcoolista varia de indiv?duo para indiv?duo. Em alguns casos, o ?lcool leva a uma conduta violenta e desequilibrada enquanto a outros leva ? apatia e ? aliena??o. Muitas vezes os alcoolistas n?o deixam transparecer para os estranhos que est?o alcoolizados. J? no ambiente familiar, quando sentem que h? um medo da fam?lia frente a sua pessoa, tornam-se cada vez mais onipotentes e agressivos, chegando a cenas de quebra-quebra, agress?es f?sicas ou de botar todos para fora de casa, argumentando que bebeu porque lhe incomodam. S?o nesses conflitos, que alguns utilizam-se de instrumentos como armas de fogo, facas e outros objetos para agredir a fam?lia. Geralmente, a esposa ? a v?tima e, raras vezes utilizam essas armas contra eles pr?prios.

Todo alcoolista, pela rejei??o que sofre da fam?lia e do meio, ? carente de afeto e considera-se um injusti?ado social. Deseja ser amado, por?m nega afeto, principalmente com o c?njuge e filhos.

O alcoolismo n?o atinge apenas um indiv?duo, mas sim toda a fam?lia. O desajuste que provoca no lar, o dr?stico impacto na forma??o da personalidade dos filhos, mostra que n?s estamos diante de um indiv?duo enfermo, mas de uma fam?lia que adoeceu e ? ela em conjunto que deve ser recuperada.

A fam?lia por estar diretamente envolvida com o alcoolismo, sofre v?rios tipos de influ?ncias e, por n?o entender que ? uma doen?a, mas um ?defeito moral,?' apresenta sentimentos hostis e de recha?o, dificultando o tratamento e a recupera??o do indiv?duo. A fam?lia passa por situa?es embara?osas devido ?s atitudes do c?njuge. Come?am a se isolar dos amigos, vizinhos e dos pr?prios familiares. Na medida em que a situa??o vai se agravando, aumenta a ang?stia e a ansiedade em tentar encobrir o problema.

Os filhos tentam mascarar o alcoolismo do pai e, por identifica??o com a m?e, tamb?m se apresentam diante do problema, criando-se um ambiente generalizado de medo do chefe da fam?lia. O di?logo torna-se mais distante, na medida em que tentam contornar a situa??o atrav?s de m?todos como: isolamento, deix?-lo sozinho, esconder a bebida, reduzir o dinheiro e outros. N?o havendo resultado positivo, aumenta a frustra??o principalmente da esposa.

O comportamento descont?nuo do casal afeta emocionalmente os filhos e, devido ?s instabilidades agressivas, hostis e psicol?gicas, havendo em maior ou menor grau rela?es conflituosas carregadas de sentimento ambivalentes de amor e ?dio. Encontramos nos filhos de alcoolistas, problemas como omiss?o do alcoolismo do pai ou m?e, repet?ncia escolar, aus?ncia do lar e, em muitos casos, degrada??o: como tamb?m, o pr?prio alcoolismo por identifica??o.

O mecanismo de enfermidade geralmente faz surgir no lar um clima de incompatibilidade, desentendimento, queixas, acusa?es, ofensas e mesmo agress?es f?sicas que v?o gradativamente agravando a situa??o e culminando, n?o raro, com a degrada??o familiar. Por outro lado, a experi?ncia demonstra que pioram as possibilidades se o alcoolista for abandonado por seus familiares, ou, se estes, por alguma raz?o, n?o colaborarem de forma efetiva na recupera??o.

A partir da compreens?o e reconhecimento do alcoolismo como doen?a, a fam?lia sente-se aliviada, tendo assim condi?es de colaborar com o doente e, conseq?entemente, consigo mesma Na fam?lia esclarecida , a doen?a ? tratada junto com o doente e nota-se al?vio de tens?o dentro do lar , ao mesmo tempo que o ambiente conturbado em que viviam vai se modificando quando um se conscientiza de que tudo era decorrente da doen?a a que estavam envolvidos.

Conseq??ncias f?sicas

O limite a partir do qual o ?lcool causa danos f?sicos n?o ? bem estabelecido, variando para cada tipo de les?o, existindo uma proporcionalidade entre o dano e a quantidade de ?lcool ingerido. Descrevemos v?rias conseq??ncias f?sicas que podem resultar da ingest?o excessiva:

  • Acidentes (no lar, no servi?o e nas estradas).
  • Altera?es sang??neos (hemorragia, doen?as do f?gado e outras).
  • Ossos e articula?es (elevados ?ndices de ?cido ?rico, degenera??o dos ossos, entre outras).
  • Les?o cerebral (s?ndrome de Wernicke Korsakoff, degenera??o cerebelar, ambliopia alco?lica e outras).
  • C?ncer ( na boca, es?fago, est?mago, f?gado, entre outros).
  • Problemas pulmonares (pneumonia, tuberculos, entre outros).
  • Epilepsia.
  • S?ndrome fetal do alcoolismo.
  • Cora??o e press?o arterial ( arritmias card?acas, cardiopatia alco?lica, hipertens?o, doen?as coron?rias).
  • Lipemia.
  • Hipoglicemia.
  • Doen?as do f?gado (cirrose hep?tica e outras).
  • Miopatia.
  • Es?fago e est?mago (efeitos corrosivos diretos do ?lcool sobre estes org?os, como gastrite, ?lcera p?ptica, esofagite, s?ndrome de Mallory_Weiss).
  • Pancreatite.
  • Neuropatia (ou neurite) perif?rica.
  • Disfun??o testicular e impot?ncia
Agentes para tratamento
  • Servi?os psiqui?tricos e psicol?gicos.
  • Terapeutas e Conselheiros em Dependencia Qu?mica.
  • M?dicos especializados.
  • Ajuda m?tua em AA ou outros grupos de apoio
  • Participa??o familiar.
Fique sabendo
  • O Brasil det?m o primeiro lugar do mundo no consumo de destilados e os alco?latras est?o na faixa de maior produtividade do indiv?duo, entre 25 e 45 anos.
  • O ?lcool ? respons?vel pela quase totalidade dos acidentes de tr?nsito.
  • O ?lcool interfere no processo de concentra??o no trabalho.
  • O alcoolismo ? uma doen?a cr?nica e progressiva, que mina o organismo, atacando todos os ?rg?os.
Estat?sticas
  • Alco?latras no Brasil - 15 milh?es
  • Alco?latras nos E.U.A - 20 milh?es
Teor alco?lico
  • Cerveja - 3% a 6 %
  • Vinho de mesa - 10% a 14 %
  • Sherry e vinho do Porto - 18% a 20 %
  • Bebidas destiladas - 40% a 75 %
Sugest?es para leitura
  • Alcoolismo - Mitos e Realidades
  • Tudo sobre o alcoolismo que voc? precisa saber
  • Como proceder com o alc?olatra
  • O caminho dos doze passos


V?nia Fortuna
? psicanalista e conselheira em depend?ncia qu?mica na cl?nica Psicomed
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Sobre quais temas voc? quer ler nesta se??o? A psicanalista V?nia Fortuna aguarda suas sugest?es no e-mail vania@jfservice.com.br