Artigo
Depress?o e suic?dio escolhem idade?
::: 31/03/2003

"Adolescente, olha! A vida ? nova...
A vida ? nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!"

M?rio Quintana

Qualquer jovem pode se sentir irritado ao ouvir frases do tipo "como voc? cresceu!", ou "quer passar perto da lua, ??". Apesar de ditas com bom humor, irritam a quem as recebe, porque o adolescente, mais do que ningu?m, sabe das transforma?es por que seu corpo e sua personalidade est? passando. E, geralmente, encara essas transforma?es com intoler?ncia e reservas. Se sente inseguro, desengon?ado e estranho. E desta forma, muitas vezes, nem conseguem perceber o momento m?gico que vivem. E quanto adultos, depois, sonham voltar a fase das descobertas, do encanto, e repleta de emo?es fortes e aventuras.

O jovem tem oportunidade de despertar para novas descobertas e experi?ncias e de viver sem preocupa?es. Mas n?o ? s? esta a realidade. No geral, ele se encontra dividido entre os mais diversos conflitos ?ntimos. ? dif?cil se identificar, se agrupar, acham as crian?as chatas e infantis e os adultos perseguidores e atrasados. Ent?o, ele forma grupos ou se isola. Mesmo que a juventude d? a impress?o de liberdade emocional, o jovem sofre muito por n?o conseguir entender, nem se sentir entendido. Confrontado com a realidade e o cotidiano, o mundo se revela para ele, como fonte de angustias e inseguran?a.

? neste momento que o adolescente quer firmar valores. E quando encontra dificuldades nisto, entra em conflito e vai em busca de novos valores. Outros aspectos marcantes desta fase s?o o despertar da sexualidade, a luta por causas nobres e ideais, a procura de explica??o para as coisas do mundo e a busca ou nega??o de cren?as religiosas. Percebemos ent?o, claramente, o idealismo, a aud?cia, a mudan?a, a curiosidade do adolescente se opondo ?s frustra?es, impedimentos, dificuldades. Ent?o, ele se v? envolvido por emo?es profundas e ainda desconhecidas para ele. Age e sente de forma incoerente e nem sabe porque. E se sente s?, muito s?.

Passa, ent?o, facilmente do riso ?s lagrimas, da alegria ? tristeza. E da tristeza, muitas vezes ? depress?o. Que chega, se instala, ? silenciosa e perigosa. E cala. Sufoca. E mata! Porque faz querer morrer.

A depress?o pode se manifestar de v?rias formas. Os sintomas s?o variados e at? em uma mesma pessoa vem diferente de u ma crise para outra. Mas ? preciso aten??o dobrada com um adolescente que manifeste:

  • Tristeza e/ou irritabilidade constante;
  • Cansa?o, des?nimo;
  • Baixa estima;
  • Ansiedade, indecis?o e inseguran?a;
  • Altera??o de sono e/ou apetite;
  • Perda do prazer nas atividades habituais;
  • Dificuldades escolares;
  • Dificuldades de concentra??o;
  • Sintomas f?sicos persistentes, dores cr?nicas, queixas constantes;
  • Id?ias de inutilidade, morte e suic?dio.

? um grito! De socorro! Imediato!
Muitas pessoas confundem depress?o com tristeza, entrega. A tristeza faz parte da vida psicol?gica de qualquer ser humano que em algum per?odo passe por estresse, perdas ou dificuldades. Mas quando passa da tristeza, modifica o comportamento e diminui o funcionamento da pessoa, temos que pensar em depress?o. Em doen?a. Que precisa de tratamento. Porque nas profundezas de todo tipo de depress?o existe o desencanto pelas emo?es e alegrias da vida.

"O suic?dio entre jovens representa o ?pice da insatisfa??o, representa uma solu??o desesperada para fugir da depress?o." O motivo aparente de um adolescente suicida ? apenas o ?ltimo fator de uma s?rie de causas que j? eram sinais de alarme. O "eu" de quem se suicida sente-se naquele momento, fragilizado ao ponto de ser dominado pela instinto da morte.

"Tinha tanto para dizer...mas a quem?" (M., 13 anos)

"...est? tudo horr?vel. N?o sirvo mesmo para nada." (T.M.M., 17 anos)

"...eu n?o fiz isto. Mas ningu?m acredita em mim." (F.A.F., 13 anos)

Pensando nos sintomas descritos nos relatos acima, podemos at? nos lembrar de j? termos escutado em nosso meio de conviv?ncia, frases semelhantes como "...estou cansado da vida...meus pais estariam melhor sem mim..." .

? importante dar aten??o a estes sinais de alerta, pois muitas vezes, por observa??o e participa??o na vida do outro, ajudamos para que ele reencontre a alegria e o sentido da vida.

Escutar! Sempre! E a? pode-se orientar filhos, alunos, amigos, parentes, vizinhos.

Os motivos que levam adolescentes ao suic?dio s?o v?rios. A principal causa da autodestrui??o ? a incapacidade de se ajustarem ?s regras e padr?es da sociedade.

Freud, por exemplo, achava que a civiliza??o eliminou a vida instintiva do homem, vindo da? sua dificuldade em afirmar-se individualmente no grupo, quase sempre hostil ?s chamadas excentricidades de cada um. Em seus estudos, concluiu que Thanatos (morte em grego) estaria em luta constante contra o instinto oposto.

Eros (a personifica??o do princ?pio de prazer, respons?vel pela vida). Desta forma, o suic?dio ocorre, quando o amor, tendo perdido temporariamente seu poder, n?o pode opor-se ao instinto de morte.

O suic?dio ?, sem d?vida, a mais dram?tica forma de autodestrui??o, uma nega??o total ? vida e aos seus prazeres e atinge no n?vel do bom senso, as raias do absurdo.

Sempre chocam. Impressionam. E at? por isso alguns epis?dios ficaram historicamente registrados e tragicamente lembrados: os ataques suicidas dos "camicases", na Segunda Guerra Mundial e os monges budistas que transformaram-se em tochas humanas, para protestar contra a Guerra do Vietn?. Mas ainda que aleguem "causas nobres", s?o sentimentos fortes e incontidos de raiva, medo e ang?stia que os destru?ram.

De acordo com Vanderlei Danielski, para o adolescente, as v?rias formas de express?o do gesto suicida constituem outros tantos conte?dos ou modos de comunicar aquilo que ele pode exprimir naquele momento:

Foto ilustrativa - suic?dio como fuga de um a situa??o considerada insuport?vel pelo sujeito;
- suic?dio em sinal de luto pela perda de um componente da personalidade ou de um modelo de vida;
- suic?dio como castigo para expiar um erro real ou imagin?rio;
- suic?dio como delito, arrastando na morte uma outra pessoa;
- suic?dio como vingan?a ou puni??o, a fim de suscitar remorso em outras pessoas e fazer cair sobre elas o rep?dio da comunidade;
- suic?dio como pedido e chantagem, visando pressionar algu?m;
- suic?dio como sacrif?cio e modo de atingir um valor ou estado considerado superior;
- suic?dio como brincadeira, para p?r a si mesmo ? prova;
- suic?dio por desgosto ou crise existencial;
- suic?dio como sa?da natural para uma conduta delinq?ente;
- suic?dio como gesto her?ico.

E n?o se pode deixar de acrescentar, o suic?dio como tentativa de escapar aos horrores da depress?o.

Mas, diante da brutalidade do assunto e do desfecho, sabemos que existe luz no t?nel, e n?o s? no fim dele. Isto porque, ? crescente o n?vel de observa??o e informa??o apresentados por parte de l?deres espirituais, professores, pais, vizinhos parceiros e amigos; al?m dos profissionais de sa?de, para as manisfesta?es de transtornos ps?quicos manifestados pelos jovens. Que devidamente observados e reconhecidos, s?o encaminhados para tratamento adequado. Pode ser esta a ajuda de que precisam. Pode ser este o eco da resposta que buscam. Ajuda!

"O medo de quem navega ? sempre a terra" (Amir Klink)


V?nia Fortuna
? psicanalista e conselheira em depend?ncia qu?mica na cl?nica Psicomed
Saiba mais clicando aqui.

Sobre quais temas voc? quer ler nesta se??o? A psicanalista V?nia Fortuna aguarda suas sugest?es no e-mail vania@jfservice.com.br


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!