Rep?rter Chico Brinati
Colabora??o: Renata Silva

Atire a primeira pedra quem n?o tem um sentimento nost?lgico pela fervilhante Juiz de Fora cultural dos anos 80. Teatro, m?sica, artes pl?sticas e literatura nunca estiveram t?o impregnados no cotidiano da cidade, intitulada por alguns como "d?cada perdida" economicamente. As artes estavam espalhadas por todos os cantos, com apresenta?es em ruas, pra?as e igrejas, fazendo da "Manchester Mineira" um verdadeiro palco a c?u aberto.

A renova??o e reafirma??o liter?ria da cidade ganhou corpo logo no in?cio da d?cada, em 1981, a partir da primeira Mostra de Poesia de Juiz de Fora , organizada por membros do Diret?rio Acad?mico do Instituto de Ci?ncias Humanas e Letras (ICHL) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento abrigou todo tipo de poesia e teve uma visita??o intensa.

O grupo de novos poetas teve como espelho nomes que retratam o melhor da poesia juizforana, entre eles: Pedro Nava, Murilo Mendes e Affonso Romano de Santana. Eles conseguiram dar f?lego a outras margens da literatura. O jornal Bar Brazil, a Revista Bizz?, o folheto Abre Alas e outros trabalhos que foram concebidos na cidade ganharam proje??o dentro e fora do pa?s.

A experi?ncia positiva rendeu novas articula?es no campo liter?rio. Mauro Fonseca, Suraya Mockdece, Jos? Santos, Wanderlei Dornelas e Fernando Fiorese (foto ao lado) se reuniram para experimentar um novo formato de literatura na regi?o. Pregos, barbante e megafone eram os principais acess?rios para a montagem do Varal de Poesias - Literatura e pol?tica de m?os dadas, que acontecia aos s?bados, no Parque Halfeld. Al?m dos versos ao vento, havia shows de m?gica com Robson Terra, apresenta?es de break, esquetes teatrais com o Teatro de Quintal e o Teatro EN-CENA, entre outras atra?es.

Segundo lembram os organizadores, a montagem do Varal era "quase uma opera??o de guerra". O mimeogr?fo era emprestado por um indiv?duo n?o identificado. J? o papel era doado pelo professor Adilson Zappa e o folhetim era impresso na gr?fica do Diret?rio Central dos Estudantes, apesar de n?o ter nenhuma liga??o com o movimento estudantil.

Gente daqui e de outras regi?es enviavam seus poemas para participar do Varal, entre eles, Tanussi Cardoso (RJ), Floriano Martins (PE), Aristides Clafke (SP), Clarice Dolabella (BH), Alcides Buss (SC), Luiz Guilherme Piva (Ub?). A movimenta??o intensa gerou um outro ve?culo liter?rio: a Revista D'Lira, cujo nome foi sugerido por Petr?nio Dias. O objetivo era produzir algo mais elaborado. Ap?s reuni?es intermin?veis e muitas discuss?es, veio o primeiro n?mero, em 1983.

A publica??o reunia ensaios, fotografias, narrativas curtas e artigos sobre artes, com periodicidade semestral e, em pouco tempo, foi considerada pela cr?tica a melhor revista liter?ria do pa?s. Juiz de Fora passou a figurar como um dos cen?rios mais importantes da literatura e o resultado n?o podia ser diferente: a ascens?o de nomes, hoje, reconhecidos dentro e fora do pa?s, como Luiz Ruffato (leia o depoimento!), Fernando F?bio Fiorese Furtado (veja o depoimento), Edimilson de Almeida Pereira (veja o depoimento), Iacyr Anderson de Freitas (leia o depoimento!), Walter Sebasti?o, Jorge Sanglard (leia o texto), S?rgio Klein, Fabr?cio Marques, Jos? Santos, J?lio Polidoro (leia o depoimento), Leila Barbosa, Marisa Timponi, Knoor, Mary e Eliardo Fran?a.


O teatro juizforano na d?cada de 80 foi caracterizado pela censura da Ditadura Militar e pela descoberta de espa?os alternativos para as apresenta?es. Bares do circuito cultural, campus da UFJF, ruas e pra?as eram palcos para espet?culos dos grupos locais. N?o que a cidade n?o fosse bem servida de teatros. Em 1987, Juiz de Fora possu?a sete: Cine Theatro Central, Centro Cultural Pr?-M?sica, F?rum da Cultura, SESC, SESI, Espa?o Mascarenhas e S?o Mateus.

Alguns deles marcaram ?poca, como o saudoso S?o Mateus, que ficava ao lado da igreja do bairro, e trazia o melhor da m?sica e artes c?nicas. Inaugurado em 1985, com a pe?a "Eterna Luz entre um Homem e uma Mulher", de Mill?r Fernandes, o teatro teve em sua primeira apresenta??o um representante da cultura na cidade: Robson Terra. Atores conhecidos hoje, como Pedro Bismarck (Nerso da Capitinga) e Marcos Marinho (Teatro EN CENA - leia o depoimento!) come?aram suas carreiras l?.

Surge Henrique Sim?es, os caf?s concertos, com Robson Terra, e o Teatro de Quintal, de Gueminho Bernardes. A cidade foi palco tamb?m de espet?culos que vinham de grandes centros, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e S?o Paulo. Juiz de Fora "viveu tempos" de Funalfa, das obras do teatro Pascoal Carlos Magno, que acabou n?o sendo finalizado.

O Grupo Divulga??o fazia 15 anos com a apresenta??o de grandes espet?culos que participaram de festivais em outras cidades. Segundo o diretor, Jos? Luiz Ribeiro (foto ao lado), o per?odo foi o embri?o do teatro juizforano atual.

"No in?cio dos anos 80, com o fim da censura, come?am a surgir grupos voltados para o besteirol e uma s?rie de autores que v?o se firmando. As pessoas passam a relaxar em rela??o a cr?tica e a ditadura e come?am a contar mais hist?rias. Foi um tempo de solidifica??o para o Divulga??o", diz.


A tradi??o cinematogr?fica de Juiz de Fora, j? havia se revelado pelas lentes de Jo?o Carri?o e nos anos 80 n?o foi diferente. Assistir a filmes brasileiros no Cinema Para?so era lei para estudantes e cin?filos engajados.

Na galeria Pio X, havia um centro de estudos do cinema e era poss?vel conseguir, ainda, alguns lan?amentos do circuito alternativo. ? imposs?vel esquecer o Cine Festival, que acontecia no Cine-Theatro Central, com os filmes de arte de import?ncia internacional. Cine Excelsior, Veneza, Palace (em sua primeira edi??o) e Rex tamb?m deixaram saudades.


Se voc? curtiu a d?cada de 80 por aqui, provavelmente, j? se rendeu a uma noitada no Raffa's ou no Viva Bella Boate. Se era daqueles que vivia passando pelo centro da cidade, o Bar Redentor era parada obrigat?ria para uma boa discuss?o com os punks, estudantes, artistas, sindicalistas e bo?mios.

Tinha tamb?m o tradicional reduto do samba, conhecido como Bar do Beco, onde eram elaboradas as composi?es para os carnavais de rua. O cal?ad?o da Rua Halfeld era marcado por charmosos restaurantes, como o Fais?o Dourado, que reunia gente bonita e famosa. Para os mais moderninhos, havia as casas noturnas Marrakesh e Vitr? que j? previam a onda da m?sica eletr?nica dos anos 90.

Os universit?rios queriam mesmo ? dan?ar Atr?s das Bananeiras (veja as fotos!). Isso mesmo! Na avenida Independ?ncia, existia um bar com esse nome - que como diriam as nossas vovozinhas - "deixava qualquer um de cabelo em p?". O nome da casa veio da concep??o original do local: bananeiras que ocupavam parte do terreno. As atra?es eram diversas e reuniam shows de punk e rock, teatro, dan?a e recitais de poesia. O resultado: toda a semana tinha um cambur?o da pol?cia parado na porta. Paradoxalmente, com a abertura pol?tica, o bar foi fechado pela prefeitura. Um abaixo-assinado foi organizado pelos freq?entadores do local, mas de nada adiantou.

Outra atra??o alternativa, era a sede do Diret?rio Central dos Estudantes (DCE), que at? hoje fica na Avenida Get?lio Vargas esquina com a Rua Floriano Peixoto. L?, al?m das reuni?es pol?ticas, aconteciam festas alucinantes, jamais vistas em outras datas.

Outras casas noturnas da ?poca: Delirium Tropical (Avenida Rio Branco), Dream's Discoteca (Avenida Rio Branco), Karavan (Galeria Pio X), Pirandello (Rua Oswaldo Aranha).



A d?cada de 80 foi marcada pela luta para preserva??o de alguns espa?os da cidade. Em 82, a campanha Mascarenhas, Meu Amor (foto ao lado) mobilizou diversos segmentos da sociedade para a transforma??o do pr?dio que abriga hoje o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (Avenida Get?lio Vargas, 200). Grito popular, passeatas e abaixo-assinado foram algumas das manifesta?es organizadas na ?poca.

No mesmo ano, foi lan?ada a campanha de tombamento do Cine-Theatro Central. Popula??o, classe art?stica e imprensa se uniram para conservar a mais bela casa de espet?culos da cidade. O projeto do arquiteto Rafael Arcuri e os afrescos de Ang?lo Biggi ganharam prote??o para vivenciar mais um pouco da hist?ria.

Outros lugares n?o tiveram a mesma sorte e sofreram as conseq??ncias do descaso, como a Capela do Stella Matutina (Avenida Rio Branco - galeria de arte e espa?o para shows. Entre os mais marcantes, o de Hermeto Paschoal - e os casar?es da Avenida Rio Branco.