Juliana Machado Juliana Machado 25/06/2015

O desconforto dos transgênicos

Recentemente foi anunciado que a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4.148/2008, que retira o símbolo indicador sobre a composição de alimentos transgênicos em um produto. Esta decisão gerou uma série de debates, e porque não dizer, grande revolta da sociedade civil consciente, tendo em vista o simples direito básico de saber o que está sendo consumido.

Para começo de conversa, é importante elucidar que alimentos transgênicos são aqueles que apresentam modificação genética, visando, por exemplo, aumentar a resistência às pragas, melhorar a qualidade nutricional, estender a vida útil ou até mesmo ampliar a produtividade, o que para alguns seria uma estratégia na luta contra a fome. Todavia, não é claro ainda, por mais evoluída que esteja a ciência e por mais qualificados que sejam os profissionais envolvidos, quais os efeitos concretos no uso deste tipo de organismo geneticamente modificado. Pessoalmente eu sou bem desconfiada quanto ao uso irrestrito de tal tecnologia, embora saiba que diariamente, sem saber, sou bombardeada por estes alimentos. Reconheço as vantagens apontadas, mas também entendo que há outras maneiras de driblar os problemas que nos levaram a apelar para a transgenia. No mínimo, o que defendo, é que eu quero saber o que é feito de transgênicos para simplesmente optar se vou ou não consumir. Quando o rótulo que indica a presença de componente transgênico é retirado da embalagem, me sinto obrigada a procurar nas minúsculas letras que descrevem os ingredientes, algo que ilumine a minha escolha. Obviamente, sobre transgênicos não vou encontrar nada. É determinado que a informação sobre a presença destes organismos é feita através de testes de detecção de DNA modificado e muitas das vezes tal percepção não acontece. Na verdade, não me importa muito saber se há ou não o tal DNA no meu alimento, quero mesmo é saber se a matéria prima a partir do qual este alimento foi produzido era ou não transgênica. Entendem a diferença? Quero saber porque sou um consumidor ativo, consciente e com livre arbítrio e entendo que se trata de um direito! E se minhas opções morais, religiosas ou espirituais não incluírem o consumo de tal produto? Como faço para escolher se a informação desapareceu?

Na contramão deste processo ilógico, há aqueles que vêm valorizando sementes e mudas que não são transgênicas, produzidas pela agricultura familiar, como o atual ministro do Desenvolvimento Agrário Patrus Ananias. É uma tendência europeia, por exemplo, defendida pelos mais renomados pensadores em ética animal e ambiental – como Peter Singer em seu livro A Ética da Alimentação, o qual sugiro a leitura. Eu desconheço os feitos históricos do referido ministro, mas em leituras recentes apoio sua posição de defender este modo mais orgânico – e ético – de plantar. Não sei até que ponto, nem porque, nem até quando Patrus defenderá tal método, já que também sou bem desconfiada com os políticos... Mas fato é que eu também apoio este modelo mais simples. Pelo meio ambiente, por mim e pelo planeta como um todo. E você?


Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.

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