Sem-teto que ocupavam terreno da Prefeitura fazem manifestação, após reintegração de posseGrupo de ocupantes foi para a frente da Prefeitura e reclamou da ação da polícia durante a madrugada. Ação de reintegração de posse começou às 2h desta quinta
Repórter
11/11/2010
Um grupo de trabalhadores sem-teto que ocupava um terreno da Prefeitura no bairro Nova Benfica promoveu uma manifestação em frente à sede do Executivo na tarde desta quinta-feira, 11 novembro. Eles reclamavam da ação de reintegração de posse solicitada pela Prefeitura e realizada pela Polícia Militar (PM) nesta madrugada. Segundo os manifestantes, diversas famílias estavam no local no momento em que a policiais anunciaram o cumprimento do mandado. "Era 1h20 da manhã e eles foram chegando, alumiando as barracas e tirando tudo mundo. Estava chovendo, tinha criança, gente de bem. Mandaram todo mundo sair e depois não deixaram entrar para pegar as nossas coisas. Somos gente, não somos cachorros", reclamou a desempregada Geralda Coutinho.
A dona de casa Marcela Argentino conta que estava no local no momento da operação policial. "Fecharam os quatro cantos do terreno e mandaram o povo sair. Vi quando derrubaram as barracas. Foi horrível, eu estava com meus três filhos." Ela afirma que não conseguiu retirar seus pertences e que não sabe para onde foram levados após a ação. "Meu colchão foi jogado na lama. Perdi a cama, meu fogão. Não tenho para onde ir, não sei onde vou passar a noite." A cozinheira Denise Augusto dos Reis confirma as informações. "Mandaram a gente afastar e depois não nos deixaram retirar as coisas. Perdi cama, cobertor, colchão, rádio, minha lanterna. A gente conseguia ver os homens da Prefeitura jogando as coisas no caminhão, mas não sabemos para onde foi e se estão inteiros."
O grupo queria um encontro com o prefeito Custódio Mattos, a fim de dar solução ao problema de moradia, mas o chefe do Executivo estava visitando obras do programa Nova Juiz de Fora. Os sem-teto tentaram invadir o prédio da Prefeitura, mas foram contidos por guardas municipais e policiais militares. Às 17h desta quinta-feira, o grupo de manifestantes ameaçava dormir na porta da Prefeitura, caso não fosse atendido pelo prefeito. Mais tarde, o chefe da Guarda Municipal, José Mendes da Silva, foi ao encontro do grupo e se comprometeu a agendar uma reunião com os sem-teto e representantes da Prefeitura. O encontro pode acontecer ainda esta semana.
Mandado judicial
Segundo informação da PM, a ação foi iniciada às 2h30 da manhã. A operação cumpriu mandado de reintegração de posse do terreno. O documento foi expedido pela juíza da 2ª Vara da Fazenda Pública Municipal, Ana Maria Fróes. Um laudo técnico da Empresa de Habitação Municipal (Emcasa), apontando que o terreno é inapropriado para habitação, embasou os argumentos do Executivo. "Parte do local é de preservação permanente, há uma área de encosta com aclive superior a 30º, que impossibilita edificações, e o terreno é muito próximo ao leito da rodovia [BR-040]. Com posse do documento de reintegração, pedimos o apoio da PM que organizou o cumprimento do mandado", afirma o secretário de Administração e Recursos Humanos (SARH), Vitor Valverde.
Ação à noite foi estratégica
Segundo o capitão da PM, Paulo Alex Silveira, a ação envolveu 160 policiais e foi realizada pela madrugada por sua complexidade e possibilidade de confronto. "Nossos levantamentos indicavam que as pessoas que ocupavam o local tinham foices e machados que poderiam ser utilizados como arma. Percebemos que a quantidade de pessoas diminuía à noite, então esse seria o melhor horário. A ordem judicial não estipulava a hora que deveria ser realizada a reintegração." Cerca de 60 servidores da Prefeitura acompanharam a operação. Foram feitos três perímetros de isolamento, até que a movimentação no terreno se estabilizasse. Por volta das 7h, todos os ocupantes e seus pertences já haviam sido retirados do local.
Segundo Valverde, no momento da operação, apenas 14 pessoas ocupavam o local como guardadores. "Dessas, onze foram levadas para a Casa da Cidadania, no bairro Retiro, e três permanecem lá. Outras três rejeitaram ajuda e disseram que seguiriam para as suas casas. O apoio assistencial que a Prefeitura podia dar foi dado." Ele afirma que parte da população retirou seus pertences e os que não foram buscados foram encaminhados a um galpão da Secretaria de Obras (SO). Os objetos podem ser retirados de lá pelos proprietários a qualquer momento. "Todos saíram do local pacificamente, com diálogo e entendimento. Não houve truculência nem tipo algum de impedimento para que as pessoas pegassem suas coisas. A ação da polícia foi exemplar e a Prefeitura deu assistência."
Não é o que conta a sem-teto Edna Cristina dos Santos Carvalho (vídeo acima). Segundo ela, os ocupantes não tiveram a oportunidade de pegar seus pertences. "Não houve assistência alguma. Ficamos desesperados. A polícia não deixou a gente retirar as nossas coisas, o pouco que tínhamos. Tem gente aqui com a roupa do corpo. Sem lugar para dormir", desabafa, afirmando que ocupava o local desde o dia 23 de outubro, quando o terreno começou a ser invadido.
Para evitar que os sem-teto tentem voltar ao local, 15 policiais permanecem cercando o terreno. Segundo Valverde, parte da área será destinada ao programa de reflorestamento Cidade Verde. Outro pedaço vai compor o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.
Os textos são revisados por Thaísa Hosken
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