As equipes que fazem o monitoramento das câmeras do Sistema “Olho Vivo” já estão acostumadas a detectar movimentações suspeitas nas praças. Na tarde da quarta-feira, 25/01, policiais militares do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) e dois Guardas Municipais foram atraídos pela imagem de duas pessoas em atitude estranha no Parque Halfeld, no centro de Juiz de Fora, que dava a entender que estavam praticando tráfico de drogas.

A mesma pessoa que aparecia nas imagens já tinha sido monitorada em atitude suspeita por outras equipes do Copom, na segunda-feira anterior. O coordenador do Centro de Operações acionou o grupo de moto patrulha e os militares deslocaram para o Parque Halfeld. Por experiência em outras abordagens, eles sabiam que era preciso cercar o local. Quando percebem a chegada de viaturas, os criminosos correm e fogem.

FOTO: Michele Pacheco - Parque Halfeld, em Juiz de Fora

Esse tipo de abordagem é complicado. Os policiais precisam estar atentos ao número elevado de pessoas num dos locais públicos mais movimentados do centro da cidade. Sem falar nas inúmeras rotas de fuga. Cientes disso, os PMs fizeram um cerco e conseguiram abordar os dois suspeitos. Pelas imagens das câmeras de segurança, foi possível confirmar que eram as mesmas pessoas que estavam agindo durante toda a tarde em atitude suspeita.

Os policiais descobriram que era um esquema de televendas de drogas. Um homem de 28 anos atendia ao telefone celular e pouco depois entregava um embrulho pequeno a pessoas diferentes, que pagavam pela entrega. Em alguns casos, o material era passado a integrantes do grupo que seguiam de bicicleta até os “clientes”.

A estratégia dos criminosos é ter sempre pequenas quantidades de entorpecentes à mão. Conforme os pedidos são feitos pelo celular, outros integrantes da quadrilha levam ao Parque Halfeld drogas para repor as que foram vendidas. Assim, em caso de abordagens de policiais ou de Guardas Municipais, é mais difícil comprovar o tráfico de drogas.

Essa rotina se repete à luz do dia, camuflada pela grande movimentação de pessoas no local. Além do homem que foi visto falando ao telefone várias vezes, outro, de 26 anos, foi preso com dois cigarros de maconha na mochila. Ele assumiu que a droga era dele. É uma situação recorrente. Os suspeitos são presos com pouca ou nenhuma quantidade de droga e, ao serem apresentados na Delegacia de Plantão, não há materialidade do crime e são, quase sempre, liberados por falta de provas.

Com os registros das câmeras de segurança, dessa vez foi diferente. Os militares entregaram ao delegado de plantão um relatório de todos os horários em que os suspeitos foram monitorados em ação no Parque Halfeld. Diante das imagens e do celular apreendido do homem de 28 anos, com o qual ele fazia as negociações, segundo a PM, a Polícia Civil ratificou o flagrante, o que significa que a prisão foi confirmada e os dois encaminhados ao Sistema Prisional.

Monitoramento eletrônico no combate aos crimes

O uso das câmeras de segurança ajuda nas ações das polícias e da Guarda Municipal. Com o aumento da criminalidade em Juiz de Fora em 2022, foi feita uma reunião, no dia 29 de dezembro, entre a prefeitura e representantes das polícias. Ficou decidido que o município cederia às forças de segurança pública imagens das câmeras que estão sob a responsabilidade dela para monitoramento de trânsito. O objetivo é aumentar a rede de vigilância eletrônica, com rotas de fuga e veículos suspeitos de serem usados em crimes.

FOTO: Michele Pacheco - Parque Halfeld, em Juiz de Fora

As praças são lugares infelizmente usados para a venda de drogas e a prática de outros crimes. Os traficantes agem, quase sempre, de forma discreta, se misturando entre os frequentadores. Mas, olhos treinados conseguem identificar características de ações criminosas. É o que acontece com as equipes de monitoramento no Copom. E que, desta vez, levou dois suspeitos de tráfico para a cadeia.

Outro ponto importante dessa ocorrência que reforça a necessidade de se investir no monitoramento eletrônico é que a equipe do Copom visualizou pelas câmaras o homem o tempo todo ao celular. Durante a abordagem e a prisão, uma jovem se aproximou e pediu que o homem de 28 anos entregasse a ela o aparelho celular dele. Sabendo que as imagens mostravam o telefone sendo usado pelo suspeito, em vez de atender ao pedido dela, os militares apreenderam o celular, que foi entregue na Delegacia de Plantão para ser analisado e ajudar na investigação do esquema de tráfico.

Elemento urbano de uso coletivo

As ocorrências de tráfico no Parque Halfeld e em outras praças de Juiz de Fora assustam a população, que muitas vezes evita esses locais, com medo da criminalidade. Mas, não deveria ser assim! A prefeitura divulgou nesta semana os serviços de manutenção realizados em 27 praças do município. Esse trabalho é essencial para garantir o conforto dos frequentadores e não é justo que a população não usufrua das melhorias por medo da criminalidade.

FOTO: Michele Pacheco - Parque Halfeld, em Juiz de Fora

Não adianta esperar que cada praça tenha uma equipe da PM e da Guarda Municipal de prontidão para inibir as ações criminosas. Seria bom demais! Mas, a demanda das corporações e os contingentes não permitem isso. Então, é importante um trabalho em parceria com os Conselhos de Segurança e as Associações de Moradores. Ouvindo as demandas e as denúncias, o poder público consegue traçar as diretrizes de combate à criminalidade.

Mas, a população também pode colaborar. O morador que passa todo dia pelas praças e pelo Parque Halfeld e percebe ações ilícitas tem vários mecanismos de denúncia. Pode ligar imediatamente para o 190 e informar as características dos suspeitos. Ou utilizar o 181, Disque Denúncia Unificado (DDU), pelo qual é possível fazer denúncias anônimas. Uma estratégia que já funcionou em alguns bairros é o trabalho das autoridades em parceria com as lideranças comunitárias.

Eu nunca esqueci uma entrevista que fizemos com o presidente da Associação de Moradores do bairro Bairu, em 2016. Eles estavam comemorando um trabalho em parceria com a Polícia Militar e a prefeitura e que tinha resultado na redução de crimes na praça do bairro. Ele nos disse feliz que “quando o Bem ocupa, o Mal vai embora”. E que quando a praça voltou a ser frequentada por famílias, crianças brincando por todo lado e os pais atentos a tudo o que se passava, os traficantes que costumavam usar o local como ponto de venda de drogas se sentiram expostos e se afastaram.

Esse pode ser um caminho viável. As praças são elementos urbanos de uso coletivo. Desde os gregos e romanos da antiguidade, elas são usadas como um espaço de transmissão de conhecimento e cultura, de diversão e de apresentação de ideias e discursos. O Parque Halfeld tem sido palco de muitos eventos e de atividades para a população. Se as prisões, como as que foram feitas na semana passada se tornarem rotina, a sensação de segurança vai ressurgir e o povo vai sentir que vale a pena denunciar, porque há sim justiça e punição.

Para isso, além das câmeras e do trabalho das autoridades de segurança pública é necessário um trabalho de conscientização que reforce a ideia de que “o que é de todos é meu também”. Isso traz de volta a sensação de pertencimento e de responsabilidade coletiva.

Michele Pacheco - Parque Halfeld, em Juiz de Fora
Michele Pacheco - Parque Halfeld, em Juiz de Fora
Capa - Raio X de JF


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