Quem vive em Juiz de Fora, com certeza, já ouviu alguém reclamar que “aqui, nada vai para a frente”. Essa visão pessimista da economia e dos negócios precisa mudar. Enquanto algumas pessoas focam no problema, outras estão trabalhando em busca de soluções.
Para incentivar o empreendedorismo, em especial na Zona Norte do município, o Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, realiza palestras gratuitas. Em parceria com o Moinho, empreendimento que funciona no bairro Francisco Bernardino, foi realizada uma oficina para empreendedores e pessoas que ainda planejam empreender.
Foram formadas rodas de conversas e apontadas as dificuldades que cada um encontra para ter acesso ao mercado e aos clientes/consumidores. A maioria apontou que não sabe como chegar ao público alvo e como usar as redes sociais e a tecnologia para ajudar nessa parte.
Entre os participantes estavam profissionais que se aposentaram na área de atuação e que sonham em abrir um negócio, empreendedores em busca de dicas para administrar melhor o empreendimento e pessoas que buscavam orientações sobre MEI, Microempreendedor Individual e se as regras se encaixam no setor em que pretendem investir.
Aos 15 anos, Antony era o mais jovem do grupo. Ele oferece serviço de informática e apresentou como maior desafio a falta de credibilidade que encontra por ser tão jovem. “Eu sei o que tenho a oferecer e faço um bom trabalho. Quem conhece a minha empresa fica feliz com o serviço. O meu maior desafio é fazer com que os possíveis clientes acreditem que um adolescente de 15 anos tem competência para fazer o serviço que oferece” explicou o microempreendedor.
Fabrício também pretende ser MEI e abrir um brechó com a namorada Ana Carolina. Os dois ainda não definiram o público alvo, mas querem uma loja temática e não pretendem ser “apenas mais um” no mercado. Por isso, estão indo com calma, ouvindo analistas do Sebrae e outros empreendedores.
Os organizadores do evento tiraram dúvidas dos participantes e destacaram a importância de dar suporte aos MEI e aos micro e pequenos empresários. Segundo eles, Juiz de Fora segue uma tendência estadual e nacional de crescimento desses setores. Para o município, historicamente industrial, é uma mudança de perfil econômico.
Manchester Mineira
No século XIX, quando se falava em industrialização no Brasil, invariavelmente, o nome da Manchester Mineira era citado. Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, ganhou esse apelido por conta do pioneirismo industrial. O empresário Bernardo Mascarenhas se mudou de Curvelo para Juiz de Fora com o objetivo de investir numa indústria têxtil.
Empreendedor, ele queria a eletricidade para mover as máquinas. Ao conhecer as corredeiras do rio Paraibuna, encontrou o que buscava! Foi responsável pela construção da Primeira Usina Hidrelétrica da América Latina, a Usina de Marmelos. Dela saiu a energia elétrica para a Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, fundada em 1888, sendo a primeira do Brasil a usar um motor elétrico. Para operar os 60 teares ingleses, foram gerados muitos empregos.
A fama de Juiz de Fora ser uma cidade promissora, conquistada por ter energia elétrica nas ruas antes mesmo de grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, contou mais alguns pontos na história de pioneirismo do município mineiro. Isso atraiu mais investidores. Cervejarias, outras tecelagens, metalúrgicas, indústrias de embalagens, montadora de carros…
O parque industrial de Juiz de Fora sofreu as consequências de seguidas crises financeiras no Brasil no século XX e da concorrência com o estado vizinho, o Rio de Janeiro, já no século XXI. Os incentivos fiscais oferecidos em terras fluminenses eram sedutores demais e muitos empresários transferiram as indústrias daqui para cidades próximas, como Três Rios. A desaceleração do setor industrial trouxe uma nova característica ao município.
Empreendedorismo em alta
Longe das linhas de montagem, muitos trabalhadores se direcionaram ao trabalho informal. O aumento de vendedores ambulantes sem registro gerou reclamações e conflitos com aqueles que trabalhavam de forma legalizada. A situação desafia o governo municipal há pelo menos duas décadas.
A atual administração está num processo de regularização de 235 pontos de vendedores ambulantes na área central, depois de reuniões com a categoria para discutir as demandas dos trabalhadores e as necessidades do município. O edital faz parte da primeira licitação do Comércio Popular nos últimos trinta anos.
O setor de comércio/serviços é uma das áreas mais procuradas pela mão de obra excedente das indústrias. Mas, a informalidade traz barreiras e dificuldades para quem quer crescer. Campanhas de incentivo à formalização e à regularização são feitas com frequência pelo Sebrae.
As demissões e os fechamentos de empresas estão entre as consequências da pandemia. No processo de retomada da economia, o setor de Serviços teve um crescimento acima de outras áreas da economia.
Minas Gerais atingiu em 2022, a marca de 391.402 pequenos negócios, entre Microempreendedores individuais (MEI), Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP). De acordo com dados do Ministério da Economia, da Receita Federal e da Secretaria de Estado de Planejamento de Minas Gerais, apesar do número elevado de formalizações, houve uma redução de 7% na abertura de negócios em comparação com 2021.
Em Juiz de Fora, dados do Sebrae indicam que em fevereiro de 2021, o município tinha registrados 46.886 MEI. Em fevereiro de 2022, o número subiu para 47.772. E continuou subindo. Até o dia 11 de fevereiro de 2023, o número de Microempreendedores individuais era de 52.562.
As áreas com maior número de formalizações foram:
1 - Cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza
2 - Restaurante e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebida
3 - Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios
Mas, nem toda a mão de obra desempregada no município tem intenção de empreender. Para tentar inserir no mercado de trabalho quem perdeu o emprego na pandemia ou em decorrência de fechamento de postos de trabalho por outros motivos, a prefeitura de Juiz de Fora desenvolve o programa “Geração JF – Emprego, Renda e Negócios”.
No último dia 16, em torno de duas mil pessoas foram em busca de um trabalho com carteira assinada. O projeto “Espaço Emprego JF” é uma oportunidade para empresas locais utilizarem espaços públicos para oferta de postos de trabalho e recebimento de currículos.
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