Mostra fotográfica apresenta o dia a dia dos caminhoneiros Estradas, uma história, nossas vidas pretende incentivar a valorização dos profissionais do volante por parte da sociedade

Aline Furtado
Repórter
1/2/2012
Painel de fotos

Motivada por sua história de vida, a artista plástica Gabi Gonçalves, reuniu, na mostra Estradas, uma história, nossas vidas, fotos, áudios, vídeos e demais objetos que retratam o dia a dia de caminhoneiros.

"Quem tem este profissional na família sabe como é a sua vida, marcada por dificuldades, distância e saudade." Gabi é bisneta e neta de caminhoneiros. E a ligação com o volante não para por aí. "Meu pai e meu irmão são mecânicos."

A exposição é uma forma de incentivar a valorização, por parte da sociedade, da profissão de caminhoneiro. "São essas pessoas, muitas vezes encaradas de forma marginalizada, que transportam quase tudo por meio das cargas, com as quais cruzam as estradas de todo o país. Por isso, pretendo dar minha contribuição para a humanização da profissão, que sofre tanto preconceito."

Há três meses, a artista deu início ao trabalho de produção. "Comecei fazendo contato com caminhoneiros e marcando em determinados locais para fazer as fotos e as entrevistas. Mas foi difícil manter dessa forma porque, como são pessoas que levam a vida de forma muito corrida, acabava havendo desencontro. Resolvi ir até uma transportadora da cidade e marquei com os profissionais. Além das fotos, realizei entrevistas e pude descobrir histórias e curiosidades com cada um dos mais de dez caminhoneiros da cidade e da região."

Algumas das entrevistas serão utilizadas na mostra, podendo ser vistas e ouvidas pelo público visitante. "Para assistir aos vídeos, o visitante poderá entrar em uma cabine de um caminhão da década de 60." O uso da cabine, adquirida em um ferro-velho, pretende proporcionar a sensação de estar na boleia de um caminhão. A mostra apresenta, ainda, objetos como placas, pneus e as famosas frases de carroceria de caminhão.

Vô Nequinha

Neta mais velha de um caminhoneiro apaixonado, o vô Nequinha, Gabi relata que sempre acompanhou a paixão do avô pelas estradas, mas também as dificuldades e riscos da profissão. "Meu avô trazia marcas no corpo provocadas por uma queimadura acarretada por carbureto. Lá pelos anos 60, ele estava, juntamente com um amigo, em um caminhão, quando ocorreu uma explosão, queimando a cabeça do amigo do meu avô, que não resistiu e morreu, além de atingir o corpo do meu avô, que conseguiu abrandar os efeitos das chamas ao jogar-se na grama. Mas as marcas o acompanharam durante toda a vida, e acabou deixando marcas, também em quem convivia com ele."

Para ela, o relato referente ao avô remete às histórias de cada um que ganha a vida nas estradas. "São profissionais que ficam muito tempo longe de casa e, por isso, dependem da família para resolver questões simples, como documentação de cargas, por exemplo."

Mortes

Durante o tempo de produção da mostra, um dos caminhoneiros com os quais Gabi teve contato, conhecido como Pipoca, morreu em um acidente na estrada. "Infelizmente, esta também é uma realidade. Durante os três meses, mais dois morreram, segundo relatos de colegas. É uma categoria que luta muito, arriscando-se em estradas mal conservadas e com excesso de carga, por exemplo."

A mostra

Uma das preocupações da artista plástica com relação à exposição Estradas, uma história, nossas vidas é permitir que qualquer pessoa tenha acesso. "Pensamos em receber pessoas com deficiência visual e auditiva, que poderão interagir com os trabalhos expostos por meio de descrições em braile, áudios e monitores capacitados para comunicação na linguagem de sinais."

Além disso, toda a mostra foi pensada de forma a não oferecer qualquer risco, já que deverá receber visitas de crianças. "Trabalhamos com cores que chamam atenção, além de evitar objetos que podem se quebrar." O projeto prevê visitas guiadas de alunos de escolas públicas de Juiz de Fora.

A exposição Estradas, uma história, nossas vidas poderá ser visitada entre 3 de fevereiro e 10 de março, de segunda a sexta-feira, entre 10h e 18h, e aos sábados, das 10h às 14h. As visitas guiadas podem ser agendadas pelo telefone (32) 3690-5715. A mostra está em cartaz no Espaço Cultural Correios, que fica na rua Marechal Deodoro, 470, Centro. A entrada é gratuita.

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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