O inferno s?o os outros

Ailton Alves Ailton Alves 30/06/2008

O personagem da rodada poderia ser o folcl?rico e iluminado Obina, autor de dois gols - um no ?ltimo segundo do jogo - na vit?ria do l?der Flamengo. Ou Francisco Alex, do Sport, que se emocionou at? o limite das l?grimas ao fazer o tento de empate na mesma partida. Ou Renan, do Internacional, que levou muito a s?rio aquela hist?ria de que na pequena ?rea o goleiro ? intoc?vel. Ou Marcos Tamandar?, do Coritiba, e sua estranha cabe?ada que resultou no empate contra o Atl?tico paranaense. Ou Den?lson, do Palmeiras, de volta momentaneamente aos bons tempos de dribles desconcertantes. Ou o s?rvio Petkovic, maestro em todos os times nos quais atua, autor do bel?ssimo gol de falta no empate do Atl?tico mineiro com o Figueirense.

Mas n?o. O personagem da rodada ? Alex Teixeira, o craque-menino do Vasco da Gama, t?o incompreendido quanto os personagens de Charles Dickens ou o miser?vel Jean Valjean de Victor Hugo.

Imagem ilustrativa Estranhamente, Alex Teixeira n?o ? titular, mesmo sabendo todos que no elenco vasca?no h? poucos iguais a ele. Reserva, o menino n?o se abate, n?o reclama. Treina com afinco e espera as oportunidades. Tem um c?digo pr?prio de conduta, parecido com o dos her?is do velho oeste: acredita piamente que, no fim, o bem vencer?.

H? uma (falsa?) esperan?a de que Alex Teixeira possa ser, doravante, o s?mbolo da nova hist?ria do clube de Regatas Vasco da Gama - era que se abre com a elei??o de Roberto Dinamite para a presid?ncia, acabando com o per?odo de trevas de Eurico Miranda.

Sob os desmandos de Eurico, tr?s ou quatro gera?es inteiras de bons jogadores foram tragadas pelo caos reinante. Para ficar apenas em tr?s exemplos: Jardel acabara de dar um tricampeonato carioca ? Cruz-de- Malta, em 1994, e foi despachado para o Gr?mio; Botti mal subira para o time principal, em 2001, e foi negociado com um time coreano, e L?o Lima, mesmo sendo o her?i do ?ltimo t?tulo vasca?no, em 2003, foi tratado como marginal.

A festa da vit?ria de Dinamite foi bonita e ficamos contentes, mas parece que ainda guardamos, renitentes (com a permiss?o do Chico), algum gosto inconfessado pela ditadura e a intoler?ncia. Pelo menos por enquanto, a liberdade ainda n?o chegou aos c?us de S?o Janu?rio.

No s?bado, Alex Teixeira marcou os dois primeiros gols contra o Ipatinga e vinha jogando bem. Errou dois passes seguidos e a torcida chiou. Ficou tr?s minutos ausente da partida e foi sacado do time pelo t?cnico, um tal Ant?nio Lopes, o delegado que faz quest?o de ser dur?o (daqueles que "mandam buscar cem d?zias de avenidas para expulsar de vez as margaridas, s? pela mania de mandar").

Por ora, jovem, Alex Teixeira tem o aspecto alegre de um funkeiro e seu futebol, a leveza dos g?nios do sapateado. No futuro - se nada for feito para proteg?-lo dos incompetentes que n?o conseguem enxergar um palmo ? frente do nariz - ser? um homem marcado como aquele cujo talento n?o apareceu, e ter? o aspecto de um melanc?lico m?sico de jazz.

No jogo de s?bado, a forma como fez os gols (chutando com firmeza de p? esquerdo e depois levando a bola com o peito para enganar o zagueiro) prova que Alex Teixeira est?, por ora, em paz consigo mesmo. O problema ? que Sartre estava certo: no futebol e na vida "o inferno s?o os outros".

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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