Infância ferroviória é retratada em livro de poesia

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Inf?ncia ferrovi?ria ? retratada em livro de poesia Fernando Fiorese lan?a Um dia, o trem, seu livro de poesia que mostra a influ?ncia da ferrovia no universo infantil


Priscila Magalh?es
Rep?rter
31/10/2008

Os amantes do trem e dos cen?rios ferrovi?rios estar?o diante de uma hist?ria que remete ? inf?ncia. Em Um dia, o trem, o poeta e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernando F?bio Fiorese Furtado aborda a morte simb?lica da figura paterna diante da for?a do trem.

A morte se d? quando, diante da m?quina pela primeira vez, o menino estarrecido solta a m?o do pai. A mesma m?o que ele vinha segurando, por acreditar que o pai era a maior coisa que havia. "O trem ? maior, mais potente e viril que o pai, que passa a n?o representar mais nada", explica Fiorese.

A hist?ria ? contada em um ?nico poema que, dividido em se?es, re?ne reflex?es sobre mem?ria, poesia, rela??o entre pai e filho, atrav?s da metalinguagem. "Eu quis refletir sobre poema e as rela?es que ele estabelece com o mundo e a realidade presente, utilizando regras de composi??o n?o muito rigorosas. S?o decass?labos, com rimas toantes, estrofes de oito versos divididas duas a duas e com t?tulo."

O livro ? uma narrativa, uma seq??ncia de acontecimentos que se desenvolvem ao longo de suas p?ginas. A linguagem ?, ao mesmo tempo, simples e complexa, dando voz ao menino e ao pai, respectivamente. Nesse meio h? um narrador oculto, que amarra a hist?ria.

Em comemora??o aos 25 anos

A mem?ria, a metalinguagem e a rela??o pai e filho s?o temas e caracter?sticas j? abordados por Fiorese em outras obras suas. Um dia, o trem representa a mistura de tudo o que j? foi publicado, um resumo, na inten??o de que o livro encerra seu ciclo de 25 anos na literatura. "Quis fazer um balan?o, sintetizar a obra, como se fosse deixar a bagagem e partir com a roupa do corpo." O poeta tem planos, mas n?o muito definidos. "Agora, quero fazer a mesma coisa, mas de forma diferente", diz.

O livro foi escrito ao longo de quatro anos, entre 2000 e 2004. Surgiu do interesse de um amigo, que tinha inten??o de fazer um espet?culo com textos em prosa sobre trem e lhe perguntou se j? havia escrito poema sobre o assunto. O amigo ? o ator e diretor de teatro Jos? Luiz Ribeiro, a quem Fiorese dedica o poema. "Eu disse que n?o tinha, mas que faria", conta.

Entretanto, nem o poeta e nem o diretor imaginaram que quatro anos se passariam. "Naquele dia, cheguei em casa e fui escrever. S? consegui fazer quatro versos e ele me cobrava", recorda Fiorese. Para ajudar, o amigo lhe emprestou a Pequena antologia do trem: a ferrovia na literatura brasileira, organizada por La?s Costa Velho. "Li tudo, mas ainda n?o conseguia escrever. Quando estava de f?rias, fiquei 15 dias tentando e nada."

Ao longo do tempo, a inspira??o foi chegando. A antologia re?ne poemas, cr?nicas, fragmentos de romance e contos de autores brasileiros sobre o trem. Para escrever Um dia, o trem, o poeta dialogou com textos de Paulo Mendes Campos, Jo?o Cabral de Melo Neto, Carlos Drumond de Andrade e Manoel Bandeira, entre outros. Al?m disso, usou outras experi?ncias mais pr?ximas. "Usei a minha experi?ncia e de amigos que tamb?m tiveram suas inf?ncias ferrovi?rias", revela.

Influ?ncia ferrovi?ria

A escolha por abordar o trem e as paisagens ligadas a ele, que faziam parte da inf?ncia de muitos mineiros, tamb?m surgiu de sua paix?o por este antigo meio de locomo??o. Em Pirapetinga, a cidade do interior de Minas onde nasceu, Fiorese (foto abaixo) n?o conviveu com o trem. "N?o havia mais quando nasci. Me lembro apenas da esta??o abandonada."

Foi em Recreio, cidade pr?xima a Pirapetinga, que o poeta brincava entre as m?quinas em suas viagens de f?rias. Para ele, o trem de passageiros representava a partida, o convite ? viagem. "Tamb?m ? o lugar de passagem, onde entram e saem pessoas e mercadorias. ? o local das despedidas e da recep??o aos que chegam."

O poeta garante que n?o ? nost?lgico, mas, atualmente, quando v? um trem de passageiros remete ? inf?ncia, pelo fato de a m?quina ter se convertido em brinquedo. "Toda tecnologia, quando se torna obsoleta, se converte em brinquedo e arte. O ?ltimo, foi o que tentei fazer no livro." A explica??o para a associa??o dos trens aos brinquedos est? no fato de que os trens de passageiros existentes na atualidade s?o destinados ao turismo. "Eles s?o todos pintadinhos, bonitinhos", acrescenta.

Apesar de gostar das m?quinas e ter crescido brincando entre elas, Fiorese n?o teve muito contato com o trem para transporte de passageiros. Em toda sua vida fez apenas duas viagens. Uma delas, ele nunca vai esquecer. "A viagem que era para ser de quatro horas, durou 12. Toda hora o trem parava, porque houve queda de barreira. E era muito desconfort?vel, pois os bancos eram de madeira, n?o havia comida e nem ?gua. Depois dessa, n?o precisaria mais viajar de trem", conta.

O livro Um dia, o trem ser? lan?ado no dia 29 de novembro de 2008, a partir de 10 h, na Livraria Terceira Margem, que fica na Galeria Pio X, 2? andar - Centro.