Ailton Alves Ailton Alves 22/3/2010

À noite, no campo do bem e do mal

torcedores assistindo jogo do Tupi X UberabaNo sábado à noite, depois do temporal, quando as luzes artificiais foram acesas, o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio estava com aspecto de cinema. Cenário de filme, mesmo, daqueles épicos, de Clint Eastwood. Não “Invictus”, apesar da obviedade (afinal o Tupi mantinha naquele campo uma invencibilidade de tempos) e sim um outro, pouco visto: “À Meia-Noite, no Jardim do Bem e do Mal”, onde Kevin Spacey mantém uma dubiedade poucas vezes vista nas telas.

De fato, os sinais estavam todos ali, como se avisasse a todos nós que um jogo de futebol é o campo propício para o bem e o mal. Só não viu quem não quis. À direita, no lado do Aeroporto, um restilho de sol vazava por cima das nuvens, anunciando uma jornada de glória; à esquerda, bem em cima do Campo do Lacet (ex-curva, hoje reta), uma nuvem ameaçadora, prometendo chuvas, trovoadas e estragos.

Não havia, a princípio, naquele campo vistoso, naquelas camisas vistosas, de Tupi e Uberaba, nada que lembrasse algum tipo de ameaça. Os do Galo começaram a chutar de fora de área. Henrique, Ademilson, Fabrício Soares chutaram, a esmo mas chutaram. Até que Gedeon acertou.

Parecia então que o futebol e a vida seguiriam seu curso normal, aqueles pontos antecipados na tabela, aquela discussão da semana inteira, de duas vitórias que levariam o Galo ao segundo lugar, quiçá à liderança do campeonato - mesmo porque naquele momento o Cruzeiro perdia para o América de Téofilo Otoni. Ficou, então, monótono o jogo.

Até que no último lance do primeiro tempo o zagueiro Adalberto foi expulso, como a cada jogo tem acontecido, de o Tupi ficar com um a menos em função dos cartões aplicados pelo árbitro.

“Nenhum a Menos” é outro filme, esse da nova safra do cinema chinês. Nele, numa aldeia dos confins da China, uma professora recebe por alunos presentes na sala de aula e empreende insanas jornadas atrás daqueles que não aparecem na escola.

No futebol, não é possível ir atrás, recuperar aqueles que saem de campo. E pior: o crime vem muitas vezes seguido de castigo. Como no sábado: um a menos e jogo empatado. Então, tão logo a noite avançou e o segundo tempo começou, como numa crônica anunciada, o Uberaba virou o jogo.

Não mais o Tupi invicto em seus domínios (a propósito: “Invictus”, o filme do Clint, não é sobre a invencibilidade de uma equipe de esportes e sim sobre a invencibilidade da alma).

Não mais o Mário Helênio o jardim apenas do bem.

Ao perder o jogo de sábado, o Tupi perdeu muito mais: na hora a confiança da torcida; imediatamente depois a possibilidade de ser o primeiro na fase inicial (já que o Cruzeiro virou o jogo contra o América); com os resultados da rodada, a possibilidade real de não fazer mais parte do G-4 ...

São muitas perdas para uma noite de sábado, para uma reta final de campeonato.

Realmente há males que vem para o mal.



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo 
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