Virada é difícil de ocorrer no segundo turnoCientistas políticos acreditam ser mais provável que a vitória de Dilma no 1º turno se repita no dia 31 de outubro. Pouco tempo e popularidade de Lula evitam a virada

Clecius Campos
Repórter
25/10/2010

A seis dias do segundo turno da eleição presidencial, uma mudança no atual cenário — com pesquisas apontando vantagem de Dilma Rousseff (PT) sobre José Serra (PSDB) — é algo difícil de ocorrer. O levantamento divulgado pelo Instituto Vox Populi nesta segunda-feira, 25 de outubro, indica Dilma com 57% dos votos válidos, contra 43% de Serra. A vantagem é de 14 pontos (veja detalhes abaixo). O Portal ACESSA.com ouviu dois cientistas políticos que acreditam ser improvável uma reação tucana capaz de promover a virada. Segundo eles, questões históricas, boa avaliação do governo Luís Inácio Lula da Silva e pouco tempo para a campanha pró-Serra dificultam um abalo no favoritismo de Dilma.

O cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, apesar de afirmar que um prognóstico é temerário, aponta que são raras as situações em que houve virada em relação ao resultado no primeiro turno. "Em eleições nacionais para presidente a história não mostra isso." Desde a primeira eleição pós-ditadura militar, quando Fernando Collor de Mello foi eleito, o vencedor em primeiro turno é escolhido presidente do Brasil. Em 1989, Collor venceu Lula no primeiro turno por 28,52% a 16,08% e depois o segundo turno por 49,94% a 44,23%. Em 1994 e 1998, anos em que Fernando Henrique Cardoso venceu, não houve segundo turno. Em 2002, Lula e Serra foram para o segundo turno, com 46,44% e 23,19%, respectivamente. No segundo turno, venceu Lula por 61,27% a 38,73% dos votos válidos. Em 2006, Lula foi novamente para o segundo turno, dessa vez com Geraldo Alckmin (PSDB), com 48,60% a 41,63%. No segundo turno, a vantagem foi ampliada e Lula foi eleito com 60,82% a 39,17% de Alckmin.

Segundo Leal, além da vantagem histórica, Dilma sai na frente por ser candidata do governo. "A eleição está com um caráter plebiscitário em que o eleitor está votando contra ou a favor do governo. Com uma avaliação do governo em seu melhor momento e pesquisas apontando vantagem de 10%, há um favoritismo de Dilma. Mas favoritismo não significa dizer que ela vai ganhar." Leal acredita que a candidata petista pode perder votos caso fatos novos surjam até o dia da eleição. "Tudo indicava uma vitória no primeiro turno e questões como o aborto e os escândalos políticos tiveram alguma eficácia localizada. Mas talvez essas variáveis não façam efeito novamente."

Para o professor de geopolítica Danilo Marcos Teixeira, no segundo turno, apesar de as forças de propaganda estarem igualadas, o partido que está no poder acaba tendo alguma vantagem. "Quem já está lá tem mais meios para atingir o eleitor, até por questões econômicas." Para ele, a diminuição no número de indecisos também dificulta uma virada de Serra no segundo turno. "Esse índice nunca passou dos 10% no segundo turno em eleições presidenciais e as pesquisas apontam vantagem maior que 10%. Mesmo que ocorra uma perda real nos votos para Dilma, não vejo condições políticas de uma virada." Teixeira lembra ainda do alto índice de voto consolidado a ser dedicado à petista. "Pesquisas já indicaram que mais de 90% dos eleitores de Dilma não irão mudar o voto."

Teixeira calcula uma vitória de Dilma com vantagem de 8% a 10% sobre Serra. Ele acredita que é mais fácil a petista conseguir agregar indecisos por estar na frente das pesquisas. "Há uma tendência entre os eleitores brasileiros de votar em que está ganhando, para não desperdiçar o voto." Outro fator que diminui as chances de Serra, na opinião de Teixeira, é o pouco tempo para uma virada.

Feriado pode aumentar número de abstenções

A eleição ocorre durante um feriadão em que parte da população terá a oportunidade de emendar folgas da noite de sexta-feira, 29 de outubro, até a terça-feira, 2 de novembro. De acordo com Leal, é de se supor que alguns eleitores prefiram viajar a dar o sufrágio a qualquer candidato. "Há uma hipótese que não tem muita empiria, mas é de se supor, que é uma perda de votos para Serra. Se você imagina que há um grande trânsito interno de paulistanos que costumam deixar a capital para o litoral em feriados como este. Isso considerando que o Estado é onde Serra tem sua principal base e, por suposição, tem mais possibilidade de viajar o eleitor com maior faixa de renda, que também apoia Serra. De qualquer forma, não há como antecipar qualquer coisa."

Teixeira também vê um feriado capaz de prejudicar mais Serra que Dilma. "Pelo perfil do eleitor tucano, parece que o PSDB está com mais medo de perder os votos."

Pesquisa Vox Populi

Considerando os votos totais, o levantamento do Vox Populi aponta Dilma com 49% das intenções de votos e Serra com 38%. Brancos e nulos somam 6%, enquanto 7% dos entrevistados declararam estar indecisos. Segundo o Vox Populi, 88% dos entrevistados estão decididos em manter o voto até o dia 31. A margem de erro é de 1,8 pontos para mais ou para menos. A pesquisa foi feita entre os dias 23 e 24, ouviu três mil eleitores em 214 municípios e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 37.059/2010. Os dois candidatos tiveram queda nos índices em relação à última pesquisa do instituto, realizada em 19 de outubro. Na ocasião, Dilma tinha 51% dos votos totais, contra 39% de Serra. Brancos e nulos somavam 6% e indecisos 4%.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken