Como são feitos os cães (principalmente os vira-latas)

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Como s?o feitos os c?es (principalmente os vira-latas)

23/06/04

Uma noite eu estava em casa, descansando, olhando a lua, pensando na vida e me lembrei de uma cadela vira-lata amarelinha, chamada Laika de um vizinho ao lado. Ela iria ganhar filhotes em breve.

Fiquei imaginando como eles deveriam ser lindos e n?o via a hora de v?-los nascer.. Ent?o, fechei meus olhos e perguntei ao Papai do C?u:
- Papai do C?u, como s?o feitos os c?ezinhos, como s?o feitos principalmente os vira-latas?

Permaneci durante muito tempo pensando naquilo e acabei adormecendo profudamente ali mesmo. Comecei a sonhar, e neste sonho vi bem na minha frente uma enorme escada que subia at? desaparecer entre as nuvens. Ouvi uma voz me convidando para sub?-la, quando olhei para cima vi que era o Papai do C?u me chamando l? de cima.

- Voc? n?o quer saber como s?o feitos os c?ezinhos? Pois ent?o venha logo que hoje ? dia de fazer cachorrinhos.

Cheguei l? em cima rapidinho e deparei-me com um sal?o enorme e muito iluminado. Suas paredes eram transparentes, deixando tudo azulado com a cor do c?u. Podia-se sentir um leve perfume de flores, um perfume t?o suave que tinhamos a sensa??o de estar flutuando. Havia um monte de anjinhos voando de l? para c?, com um barulhinho de asas ador?vel.

Papai do C?u falou assim:
- Pequenos anjos, meus entregadores (era assim que eles eram chamados), todos voc?s sabem que hoje ? dia de entregar cachorrinhos l? na terra, portanto peguem suas cestas e venham aqui!

Apontou para um anjinho de cachos louros e disse.
- Sua miss?o ser? entregar filhotes de c?es pastores: aqui tem uma lista com os nomes e endere?os das cadelinhas que ir?o receb?-los, e quantos cada uma vai ter.

Depois chamou um anjinho de cabelos lisos, como os de um indiozinho e disse:
- Para voc? est?o reservados os filas e voc? tamb?m tem uma lista.

E assim foi estabelecendo um anjinho para cada ra?a. Foi um alvoro?o geral, era anjo que n?o acabava mais farfalhando suas asas em torno de Papai do C?u.

E ap?s cada anjinho receber a sua atribui??o, todos entravam em uma longa fila que ia dar em uma prateleira. Nessa prateleira estavam muitos cachorrinhos, todos sem cor, dormindo um ao lado do outro, agrupados por tamanho, todos ressonando de ling?inha de fora. Fiquei curiosa e pensei comigo mesma: "Porque todos eles s?o brancos? Para que ser? esta fila?". Foi ent?o que percebi para que tudo aquilo servia.

Ao chegar na prateleira os anjinhos entregavam suas listas a outros anjos, os selecionadores, os quais se encarregavam de escolher os c?ezinhos adequados para cada tarefa, enchiam as cestas e as devolviam aos entregadores.

Os entregadores, ap?s receberem e conferirem suas cestas, se dirigiam para grandes m?quinas com esteiras entrando e saindo. Eles colocavam as suas cestas com os c?ezinhos sem cor de um lado, corriam para o outro lado, e como que por um passe de m?gica, pegavam a cesta com os c?ezinhos, j? coloridos, e de acordo com a ra?a escrita nas listas.

Eram m?quinas e mais m?quinas, anjos e mais anjos, cesta e mais cestas, e a cada momento uma revoada de anjos em forma de estrelas partiam em dire??o ? Terra para entregar os filhotes para as suas mam?es.

Fiquei olhando l? de cima eles descerem como um raio, e ? medida que se aproximavam da Terra, iam sumindo, sumindo at? ficarem invis?veis, mas curiosamente eu ainda podia v?-los, coisas que s? acontecem para quem esta no C?u mesmo. Ao indagar Papai do C?u porque eles sumiam, ele me explicou que era para que os donos das cadelinhas n?o vissem os entregadores colocando os c?ezinhos dentro das barriguinhas delas, conforme estava escrito na lista de cada um. Depois ficavam brincando um pouco com elas e ganhavam muitas lambidas. Era um festa! J? viu quando os c?ezinhos ficam brincando sozinhos e rolando no ch?o todo contentes? Quem sabe n?o tem um anjinho brincando com ele? E ap?s a farra,...

L? pelas tantas eu reparei que s? c?ezinhos de ra?a eram produzidos e entregues... E pensei comigo: "Cad? os viralatas? Por que ningu?m est? fazendo um vira-latinha s? que seja?".

Puxei o bra?o de Papai do C?u e lhe perguntei: "Poxa, cad? os vira-latas? Quem faz os vira-latas?"

Ele se virou gentilmente para mim, com um sorriso confortante no rosto e me respondeu:

- Os vira-latas s?o feitos por mim, eles merecem um pouco mais de aten??o e d?o mais trabalho para que a ninhada saia perfeita, pois eles s?o quase uma obra de arte. Pegue uma cesta e me acompanhe, venha me ajudar a fazer alguns.

Fui com Ele at? as prateleiras e fiquei ao seu lado esperando. Ele cantarolava alegremente, come?ando a pegar filhotes de v?rios tamanhos at? encher a sua cesta. Ele se virou para mim e me pediu pra segur?-la. Sentou-se junto a monte de latas de tintas e me pediu que lhe entregasse um filhote.

Nesse meio tempo, os entregadores j? tinham acabado suas tarefas e vieram se sentar em torno de n?s. Um deles me falou baixinho no ouvido: "Agora ? que vem a parte mais divertida da noite!".

Papai do C?u, com aquele c?ozinho que eu havia lhe entregue na m?o, pintou-o todo de amarelo, deu uma pincelada no seu focinho e deixou-o pretinho, depois proclamou com uma voz firme e suave: "Todos os c?es de focinhos pretos ser?o bons c?es de guarda!". E assim Ele foi pintando o sete durante toda a noite, criando os cachorrinhos e declarando suas qualidades. "Os de olhos amarelos ser?o c?es bravos, e os que j? nascerem cot?s ser?o muito inteligentes!", falava Ele olhando para todos n?s.

Ao terminar todos os c?ezinhos da cesta, Ele chegou perto de uma janela em forma de estrela, me chamou e me mostrou uma cadelinha l? na Terra em um terreno ao lado da minha casa. Era a Laika. Ele me disse:
- Esta ninhada ser? daquela cadelinha vira-lata ali embaixo. Voc? a conhece muito bem n?o?

E para minha surpresa, neste instante, Laika sentou-se olhando para cima, abanando seu rabo. Perguntei: "Ela est? te vendo Papai do C?u?"

- Mas ? claro que sim, todos os bichos conseguem me ver, afinal eles s?o puros, s?o meus anjos na Terra. Eu os coloquei l? para fazer companhia para os humanos, acalm?-los, encher o mundo de gra?a e dar exemplo de amor e perd?o. Mas, infelizmente, s?o poucos os humanos que conseguem ver este valor nos animais.

Enquanto isso, Ele j? estava com outro filhote na m?o e, ao falar comigo, distraiu-se, deixando-o cair na tinta preta. Rapidamente Ele o pegou pela ponta do rabinho.

Um anjinho pegou uma toalha, enxugou o c?ozinho e cochichou no meu ouvido:
- Ele sempre se distrai e deixa um cair na tinta preta. ? por isso que em todas as ninhadas de vira-latas tem um c?o todo pretinho s? com uma min?scula mancha branca, que ? por onde Papai do C?u o segurou para tir?-lo da tinta.

Nisso, Ele j? estava pintando dois s? de amarelo para ficarem parecidos com a m?e. Fiquei imaginando como tem vira-latas amarelos, e c? com meus bot?es pensei que cor preferida de Papai do C?u devia ser amarelo.

Ele pintou tamb?m c?es com bolas pretas e amarelas, um olho azul e outro amarelo, c?es todos manchadinhos, outros de bolinhas, outros tigrados.

Os anjinhos faziam uma algazarra s?, j? que Papai do C?u pediu suas opini?es e cada um pedia uma coisa diferente. Sairam c?es de tantas cores que mais parecia uma colcha de retalhos.

De repente minha m?e me acordou dizendo assim:
- Por que voc? estava dizendo sem parar: "Ficaram lindos! Lindos! Lindos!"?
- Foi um sonho, mam?e, que eu vou lhe contar depois - respondi-lhe.

No dia seguinte fui naquela casa onde Laika morava. Ao chegar l? a vi com seus oito filhotes. Chamei-a e ela assentou ao meu lado abanando o rabinho tal como eu tinha visto l? do c?u.

Admirei e beijei cada focinho colorido daqueles filhotinhos e pensei comigo: "Tenho certeza que sou um dos poucos humanos que consegue ver que os bichinhos s?o anjos que Papai do C?u nos deu de presente."

E assim s?o feitos os vira-latas.

*Maria Elisa de Souza ? presidente da Sociedade Juizforense
de Prote??o aos Animais e atua h? mais de 18 anos na ?rea