Exemplo de paixão incondicional pela corrida e o ensino

Neuza Marsicano, 66, afirma que nem cogita a possibilidade de parar de correr pelo ranking

Angeliza Lopes
Repórter
8/08/2015
corrida

Na última corrida do Ranking de Juiz de Fora, 1° Corrida do Curso Nota 10, com trajeto de 10 km, pela via São Pedro, em 2 de agosto, uma atleta se destacou em meio a dezenas de competidores que suavam pelo mesmo objetivo, que era encerrar os quilômetros antes do tempo. Debaixo de sol, era possível ouvir os gritos de apoio e incentivo à Neuza Maria de Oliveira Marsicano, 66 anos, para que não desistisse de sua meta, mesmo com o desgaste do percurso. A garra da professora universitária estava no coração de quem a conhece e queria ver mais uma vez ela ultrapassar com glória outra linha de chegada.

Neuza, lembrada por muitos ex-alunos do período em que lecionou e foi diretora da Escola Estadual Duque de Caxias, reconhece que é uma entusiasta do esporte, em especial a corrida, por admirar a simplicidade da modalidade. Ela conta que começou a correr em 2005 no Ranking de Corridas de Juiz de Fora, que completa 26 anos em 2015. Neuza esteve presente em quase a metade de todo o trajeto do projeto social. Com o passar dos anos, ela observa que o ranking cresceu e ganhou novas formas. "Com a criação da Secretaria de Esporte e Lazer e a participação das empresas privadas nas organizações, percebo que houve um aumento muito grande de participantes e da qualidade das corridas. Hoje, as competições de rua do município estão equiparadas as dos grandes centros", afirma.

Construção social: Esporte e Educação

"Sou professora e amo essa missão!", diz. Neuza dedica décadas a aplicação do ensino de qualidade, com experiência nos três níveis: da Educação Infantil ao Ensino Superior. Como intitula, sua missão sempre esteve no abraço de dois pilares importantes na construção e fortalecimento das áreas de risco social do país: esporte e educação. Não há preferência para seu empenho como educadora. Neuza diz que "o que importa é ser força positiva na construção de uma sociedade melhor e mais justa, com cidadãos conscientes e preparados para encarar desafios e terem sucesso e plenitude."

corridaCom currículo extenso, a maior parte de sua vida acadêmica foi como professora e diretora da Escola Estadual Duque de Caxias, na avenida Rio Branco, onde fez parte da história e desenvolvimento de muitos alunos de todas as partes da cidade. Já no nível superior, atuou como professora substituta na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenadora e professora dos cursos de Formação de Professores da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), campus II.

Atualmente, ela continua trabalhando com a educação na modalidade a distância, pela Universidade Aberta do Brasil (UAB – CEAD/UFJF), com cursos de pós- graduação, para formação continuada de professores. "Estou apreciando muito essa modalidade de ensino a distância. A ela tenho devotado meu tempo e esperanças quanto ao acesso à educação superior, pública e de qualidade".

Lidar com os desafios

Neuza Marsicano aprendeu com suas experiências que as adversidades fazem parte da vida, o esporte ensinou-a que quanto maior são as dificuldades para vencer, maior será a satisfação ao concluir os desafios em todos os sentidos. "Sinceramente, acho que devido ao esporte, sempre lidei muito bem com os problemas que surgiam. Uma das maiores dificuldades que enfrentei no esporte foi a corrida São Silvestre de 2013/2014. A prova era ainda no horário de 17h. Foi um final de ano com chuva. Na concentração, 15 minutos antes da largada o céu de São Paulo escureceu. O percurso todo foi debaixo de chuva forte. Completei aquela corrida como uma das últimas colocadas, mas no momento em que cruzei a linha de chegada foi a maior superação da minha vida", enfatiza.

As corridas que Neuza compete atualmente são as organizadas pelo Ranking de Corridas Rústicas e por empresas particulares, sendo que algumas são em outras cidades, estados ou até país, como as competições na Argentina e Chile. Ela não dispensa uma boa preparação física para conseguir encarar todos estes quilômetros de corrida com seus 66 anos de idade.

corridaPara a atleta não há nada na vida comparado à corrida! Suas provas preferidas são os trajetos em meio a natureza, como a Cross Country. "É uma espécie de reino mágico onde, por algum encantamento eu me sinto a pessoa mais feliz. Correr e conhecer o Atacama, por exemplo, foi mais uma experiência surpreendente e inesquecível. Lindas paisagens. Aridez, oásis, vida. Cenário inspirador......", destaca.

Ao ser questionada se pensa em parar de correr, ela afirma que esta possibilidade não existe. Neuza Marsicano cita que encontrou sentido para continuar motivada, nesta fase complexa da vida, no exemplo e palavras do psicólogo humanista Carl Rogers. Com mais de 80 anos, famoso e respeitado no mundo inteiro, ele afirmava que, apesar do seu declínio físico, encontrava uma grande motivação e alegria em continuar aprendendo, revendo suas ideias, suas certezas e em poder ser útil para muitas pessoas. "Isso me confirmou que era possível e vale a pena enfrentar as limitações da idade. E ainda amo e sou amada".

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