Retrato do desemprego Cerca de 75% dos camel?s de Juiz de Fora j? trabalharam com carteira assinada. Desemprego ? o principal fator para o ingresso no mercado informal aponta pesquisa

Renata Cristina
Rep?rter
04/12/2006

Veja as tabelas elaboradas de acordo com a pesquisa dos acad?micos do curso de economia das Faculdades Integradas Vianna J?nior. Clique!


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Foto da camel? Olinda Eles se consideram felizes na profiss?o, 67% t?m casa pr?pria e 69% s?o propriet?rios dos pontos onde trabalham. Estas caracter?sticas poderiam se encaixar em diversos perfis de profissionais, mas correspondem a uma ala dos trabalhadores informais de Juiz de Fora, conhecidos popularmente como camel?s.

Os dados foram levantados em uma pesquisa realizada pelos acad?micos do curso de economia das Faculdades Integradas Vianna J?nior, na qual 96 camel?s da regi?o central da cidade passaram por uma entrevista, durante o m?s de novembro deste ano. De acordo com o professor-orientador do projeto, Silvio Magalh?es, o objetivo ? tra?ar um perfil s?cio-econ?mico desses trabalhadores e sugerir algumas alternativas para o munic?pio.

Entre os resultados mais relevantes, o levantamento aponta que 75% dos camel?s j? trabalharam com carteira assinada, mas 40% optaram pela atividade devido ao desemprego. H? ainda outras raz?es, como a satisfa??o pessoal (14,4%), aposentadoria (5,6%) e por n?o ter patr?o (4,4%).

Dos que trabalharam com registro em carteira, verificou -se que a maioria (34,7%) ficou na formalidade por um per?odo de 1 a 5 anos, sendo que 25% por um tempo maior, de 5 a 10 anos, 11,1% de 10 a 15 anos e 16,7% por um per?odo acima de 15 anos, sendo que 50% dos entrevistados estavam alocados no setor terci?rio (com?rcio). Quando o assunto ? voltar ao mercado formal, a resposta de 66, 2% ? clara: n?o querem retornar ao trabalho com carteira assinada.

Cerca de 33% dos entrevistados tamb?m acreditam que e a informalidade ? mais rent?vel do que o com?rcio formal na cidade, j? que 65% t?m faixa salarial entre um e tr?s sal?rios m?nimos, enquanto os trabalhadores formais recebem R$ 408 na carteira assinada.

Her?is da resist?ncia

Outro dado apurado pelos acad?micos, revela que mais da metade dos entrevistados (50,5%) disseram estar no ramo informal h? mais de 10 anos, fato que sugere certa estabilidade no ramo.

No mesmo dia em que nossa equipe de reportagem percorreu as ruas da cidade, 04 de dezembro, um dos camel?s mais antigos da regi?o, Arcanjo Costa (foto ao lado, ? direita) completava 39 anos na Rua Marechal Deodoro. O comerciante relembra que aos 14 anos montou sua barraca em frente a ag?ncia do Banco do Brasil e, mais tarde, fixou-se na Marechal, quase esquina com a Avenida Rio Branco.

Daquele tempo de adolescente, Arcanjo guarda lembran?as da Ditadura Militar, per?odo em que era freq?entemente fiscalizado. "Eles chegavam batendo e humilhando cada um. Era uma guerra, pois bat?amos tamb?m", declara. Embora o comerciante tenha lutado para chegar aos 39 anos de camel?, as boas lembran?as s?o in?meras. "Trabalhar na rua ? formar uma fam?lia. Tenho gera?es de amigos por aqui", conta sorridente.

Sempre que pode, o amigo Gil Guimar?es Rosa (foto acima, ? esquerda) visita a barraca de Arcanjo e puxa um banquinho branco para bater um papo e colocar os assuntos em dia. "Conhe?o o Arcanjo h? muitos anos. J? sabia quem era, mas fiquei mais amigo quando ele veio para o camel?", comemora a amizade.

O tempo em um mesmo ponto de trabalho, como ? o caso de Arcanjo reflete outra conclus?o da pesquisa: 69,5% dos entrevistados disseram ser propriet?rios dos pontos de com?rcio.

Outra veterana da ?rea ? a vendedora Olinda Teixeira (foto ao lado). H? trinta anos, ela comercializa brinquedos, sombrinhas e artigos importados para garantir a renda da fam?lia. "Criei dois filhos com o dinheiro das ruas. Trabalho das 7h30 ?s 19h30 e n?o consigo sair daqui. Me divirto com os clientes", atesta.

O vendedor de doces Geraldo de Freitas ? outro que fez amizades como comerciante h? 30 anos. Sua primeira atividade foi como vendedor de picol?s e ap?s um acidente em que perdeu o bra?o esquerdo e os dedos do p? fixou seu ponto em frente ao Pan Marechal, como vendedor de doces. Geraldo explica que conseguiu tratar de sua sa?de com o dinheiro do com?rcio. "Se Deus me pagasse de acordo com o n?mero de amigos, estaria rico", brinca.

Tamb?m dono de sua barraca de frutas, Paulo Ferreira Dutra trabalha h? 47 anos no ramo e h? 12 ocupa um ponto na R. S?o Jo?o. Ele diz que j? foi mais lucrativo trabalhar com o com?rcio informal. "As condi?es de pagamento, como o cart?o de cr?dito e prazos longos oferecidos pelos supermercados, est?o dificultando par gente", lamenta.