Eleições 2012 27/9/2012

Tabuleiro eleitoral e tendências de acirramento da crítica

politicaA se confirmarem as indicações das pesquisas de intenção de voto, o cenário eleitoral juizforano ainda comporta indefinições. Em que pese a grande possibilidade de que Margarida Salomão (PT) caminhe para o próximo turno, a disputa pela segunda colocação entre Bruno Siqueira (PMDB) e Custódio Mattos (PSDB) é, até esse momento, intensa. Em cenários assim, é altamente provável uma elevação de tom nas críticas mútuas. Em todo o mundo, campanhas muito acirradas estão associadas ao desenvolvimento de estratégias discursivas mais virulentas e articuladas em torno da propaganda negativa sobre os adversários.

Nos programas televisivos veiculados na quarta-feira à noite, dia 26 de setembro, foram oferecidos numerosos indícios de que a reta final da disputa tende a caminhar nesse sentido. A onze dias da votação, o tensionamento entre Bruno e Custódio (que já estivera evidente no debate da TV Alterosa) transformou-se em estratégia explícita. Mesmo a campanha de Margarida, com relativo conforto nas pesquisas, assumiu um tom crítico não apenas em relação ao prefeito – o que ocorreu desde o início, para marcar-se como candidata de oposição –, mas também em relação a Bruno, nesse momento o seu mais provável concorrente no segundo turno.

Após afirmar que a vitória no 1º turno está cada vez mais perto, o programa petista perguntou: "o que é realmente novo"? Por meio desse gancho, criticaram-se tanto a candidatura de Custódio quanto a de Bruno. Este último foi apresentado como novo apenas por ser jovem, além de ser acusado de possuir um discurso vago e generalista, e de repetir propostas formuladas pelos outros candidatos ("Talvez um dia, no futuro, mais maduro e com mais experiência, ele possa fazer algo por nossa cidade", disse o narrador). Já Custódio, segundo o programa do PT, "não teria mudado nada" nas duas vezes em que teve a oportunidade de administrar o município.

O programa de Bruno, embora tenha sido temático, manteve a estratégia de mostrar os problemas da cidade e de imputá-los ao atual prefeito. Como a discussão daquela noite centrou-se no tema do transporte (tal como ocorrera minutos antes no programa de Margarida), a coincidência ficou explícita: as propostas de ambos foram bastante similares – e como a candidata do PT exibiu seu programa antes, pode ter sido potencializado o argumento de que Bruno apenas repetiria propostas de seus adversários.

Nessa altura da campanha, a movimentação das peças do xadrez eleitoral adquiriu dinamismo. Acusar Bruno de copiar propostas de outros candidatos já tinha sido um mote da campanha de Custódio em programa anterior, num quadro em que o candidato conversava com a plateia em um pequeno auditório. As campanhas, agora, ampliam o número de menções críticas e o fazem de forma mais explícita.

O programa de Custódio na noite de 26/9, por exemplo, iniciou-se com forte acusação ao candidato do PMDB. Segundo a campanha tucana, o peemedebista teria mentido para os eleitores num programa anterior (e a palavra "mentira" e suas derivadas foram repetidas por vários minutos na crítica peessedebista).

Sintomaticamente, todo o longo trecho dedicado a criticar Bruno, por quase dois minutos, não apresentou os padrões gráficos e visuais típicos dos programas de Custódio; só ao final dessa passagem apareceu a frase "Começa agora o programa Juiz de Fora No Rumo Certo" ­– numa clara indicação de que não se pretendia associar o programa peessedebista à dureza das acusações contra o adversário.

Com indignação, a apresentadora Sonja dizia que a campanha de Custódio permanecia com objetivo de prestação de contas e de propostas ("uma campanha limpa"), mas que havia sido obrigada a mudar essa linha para "reestabelecer a verdade".

A atual composição das peças no tabuleiro político provavelmente empurrará, nos próximos dias, as candidaturas para uma posição de maior criticidade em relação às demais. Em primeiro lugar, porque a cada momento diminui o número total de indecisos; em segundo, porque a proximidade da votação amplia naturalmente o calor das discussões e as emocionaliza; e, em terceiro, porque a posição de cada um depende da posição dos outros ­– em linguagem de teoria dos jogos, trata-se de um jogo de soma zero, no qual o que cada um conquista provém em grande medida do que o adversário perdeu.

Para Margarida, desde o início, importou diferenciar-se do atual prefeito e marcar-se como opção oposicionista; nessa reta final, a se consumar a tendência de um segundo turno contra Bruno, é preciso começar a delimitar diferenças em relação a ele e a estabelecer as bases discursivas para criticá-lo.

Para Bruno, que também se apresentou na campanha como candidato oposicionista ao governo tucano (apesar do apoio dado a Custódio no segundo turno de 2008, e da atuação na Câmara dos Vereadores que não foi especialmente crítica ao governo até 2010), a ida ao segundo turno depende de impedir o crescimento da candidatura do atual prefeito ­– o que certamente o levará a uma radicalização discursiva. Se ficar patente uma alta probabilidade de estar no próximo turno, trata-se então de virar as baterias contra Margarida.

Para Custódio, numa luta final por sobrevida eleitoral nessa disputa, não resta outra saída que não a de tentar tirar votos dos demais, sobretudo da candidatura que aparece logo à frente nas pesquisas. Apesar de o grupo itamarista do PMDB, do qual Bruno faz parte, ter sido sempre próximo de Custódio (enquanto o grupo tarcisista é adversário há décadas), a ida do tucano ao segundo turno depende de uma queda das intenções de voto do candidato peemedebista. ­Ataques diretos a Margarida, provavelmente, se intensificariam apenas num eventual segundo turno.

Em política, críticas são naturais e legítimas; mais que isso, elas são necessárias para estabelecer o contraditório e oferecer clareza ao eleitor. Mas a sociedade espera que elas sejam exercidas com todos os limites éticos e dentro de todos os marcos civilizatórios: sem golpes baixos, sem desqualificação pessoal, sem empulhação. Evidenciar diferenças políticas faz bem à democracia: o eleitorado espera, contudo, que o calor da reta final de campanha se limite a isso.


Paulo Roberto Figueira Leal (professor da UFJF; doutor em Ciência Política pelo Iuperj) e Vinícius Werneck Barbosa Diniz (doutorando em Ciência Política pelo Iesp-Uerj)

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