Eleições 2012 5/10/2012

A luta pela imposição da agenda e pela construção de imagem

TV e eleitorOs últimos programas televisivos dos candidatos à prefeitura, no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), serviram para mais uma vez evidenciar suas estratégias discursivas centrais. A quais agendas políticas eles buscaram se associar? As falas finais nesses programas, na última quarta à noite, e também no derradeiro debate de TV no primeiro turno, na quinta à noite, ofereceram sólidas evidências dessas estratégias.

Na sua despedida, no quinto bloco do debate, Margarida reforçou seu posicionamento discursivo como candidata de oposição: ao fazê-lo, pretendeu não apenas mais uma vez se situar na disputa como alternativa ao atual prefeito (algo que ocorreu durante toda a campanha, até pelo recall de ter sido por ele derrotada em 2008) como também reforçou a crítica a Bruno – seu mais provável oponente num eventual segundo turno, de acordo com as pesquisas.

Ao falar das "afinidades" entre Custódio e Bruno, buscou marcar as diferenças políticas entre ela e o candidato do PMDB e cobrar dele o apoio dado a Custódio na última eleição. A estratégia embute riscos: ao mesmo tempo em que pode desgastar o peemedebista junto à fatia do eleitorado que rejeita o atual governo, facilita a transferência quase automática de votos de eleitores que aprovam a atual gestão para Bruno, caso ele e a petista estejam no segundo turno.

No HGPE, o último programa da candidata do PT foi aquele que mais investiu tempo numa apresentação sumária das propostas de governo apresentadas ao longo da campanha – que foi também aquela, dentre as candidaturas líderes nas pesquisas, que mais fortemente ancorou-se na explicitação dos vínculos partidários. Mais uma vez, a estratégia pode comportar efeitos colaterais: mesmo que o PT seja a sigla com maior nível de identificação partidária no país e na cidade, é também uma das mais solidamente rejeitadas (e a repercussão do julgamento do mensalão certamente contribuiu para, em certos círculos, cristalizar essa rejeição).

Já a participação de Bruno no debate foi marcada por rusgas mais intensas com Margarida do que com Custódio -– ao contrário do que aconteceu durante quase toda a campanha. Certamente em consequência das últimas pesquisas de opinião, que indicavam sua ida ao segundo turno para enfrentar a petista, a estratégia do peemedebista incluiu até elogios à atual administração (por exemplo, em réplica na qual afirmou que a prefeitura travou uma batalha contra a poluição visual representada pelos outdoors).

O rumo discursivo do candidato do PMDB, em reação à lembrança de que havia apoiado o atual prefeito no segundo turno de 2008, foi baseado na afirmação de que se decepcionou com o não cumprimento do plano de governo prometido pelo atual prefeito. Já no programa do HGPE, Bruno investiu mais tempo na recuperação de gravações de apoiadores, alguns dos quais (como Murilo Hingel) relembrando a relação do peemedebista com Itamar Franco. O depoimento da esposa de Bruno, Daniele Siqueira, representou o toque de humanização do candidato, estratégia comum em momentos finais de campanhas.

Custódio, por sua vez, enfatizou em seu programa final a tese de fundo de sua campanha – a de que teria recebido a cidade falida e a demora em apresentar as obras prometidas se deveria a isso. Além de listar suas realizações, o tom sempre foi marcado pelos apelos de que o processo de recuperação representado por seu governo precisaria ter continuidade ("vamos deixar Juiz de Fora continuar avançando", disse Aécio Neves). Tal como no caso de Bruno, parte importante do programa foi dedicada a depoimentos da família – esposa, filha e netos do tucano falaram sobre sua personalidade e sobre a convivência com ele.

O rumo discursivo de que os problemas de avaliação do governo se deveriam à herança recebida pelo governo anterior foi a tônica também de sua fala de despedida no debate. Listando as dificuldades que teriam resultado em atrasos, mas enfatizando as realizações, afirmou que aqueles grupos ou setores da cidade que ainda não haviam recebido obras ou investimentos as receberiam num eventual segundo mandato.

Enfim, as três principais candidaturas escolheram claramente distintos posicionamentos estratégicos para encerrar a campanha do primeiro turno. Ressalte-se que, como em qualquer outra disputa, esses posicionamentos devem-se sobretudo a cálculos relacionais (em resposta à questão "onde quero estar em função da posição assumida por meus adversários"), demonstrando que a dinâmica da campanha, talvez mais do que outras variáveis, condiciona as ênfases discursivas de cada um. Resta esperar que as escolhas narrativas dos candidatos constituam fonte razoável para o processo de tomada de decisão pelo eleitorado de Juiz de Fora.



Paulo Roberto Figueira Leal (professor da UFJF; doutor em Ciência Política pelo Iuperj) e Vinícius Werneck Barbosa Diniz (doutorando em Ciência Política pelo Iesp-Uerj)