Desempenho de políticos em redes sociais ainda não consegue atrair eleitores

A campanha política nas eleições municipais atingiu a internet de forma maciça, mas ainda são necessárias algumas medidas para transformar a popularidade em voto

Nathália Carvalho
Repórter
10/10/2012
Redes sociais e internet

As campanhas elaboradas por políticos durante as eleições municipais deste ano utilizaram-se de diversos artifícios para conquistar eleitores e se fazerem presentes. Seguindo a tendência natural, os candidatos marcharam em um movimento "manada" rumo à popularidade e imergiram, de vez, em mais um meio de comunicação com o eleitorado: as redes sociais. Já amplamente utilizada em eleições anteriores em diversas partes do mundo, essa pode ter sido a primeira vez que o método profissionalizou-se para futuros prefeitos e vereadores no Brasil, atingindo as mais diversas formas de interação.

Em Juiz de Fora, foram verificadas inúmeras manifestações, principalmente no Facebook, mas será que a fórmula utilizada está funcionando? A 18 dias do segundo turno, o Portal ACESSA.com conversou com profissionais do ramo sobre e, para eles, o bom desempenho dos políticos ainda não está resultando diretamente nas urnas. O jornalista e pesquisador da área de comunicação digital, Márcio Ferreira, acredita que a utilização de redes sociais no país ainda está "engatinhando", mas a tendência é a ampliação.

"Em geral, os candidatos que conseguem um bom status em redes sociais não são os que vencem as campanhas. Apesar desse método já ter sido utilizado prematuramente nas eleições presidenciais de 2010, ainda não tivemos uma manifestação importante, como foi o caso da campanha de Obama, nos Estados Unidos", conta o pesquisador. Ele refere-se ao fato ocorrido em 2008, quando a presença online do então candidato à presidência do país em diversas redes sociais conseguiu reverberar em uma campanha de sucesso, que culminou na vitória do candidato. Outra diferença que Ferreira sugere está relacionada com o fato de tal artifício não conseguir tamanha repercussão no nosso país, visto que a parcela de brasileiros que têm acesso à internet é menor quando comparada aos norte-americanos.

A influência da mídia

Neste sentido, Ferreira baseia-se em pesquisas relacionadas à dita pirâmide do engajamento. Tal teoria entende a forte influência exercida por determinado grupo de pessoas em relação aos demais. "A base dessa pirâmide é quem assiste e recebe as informações repassadas. Se pensarmos na restrita participação de parcelas mais baixas da população na internet, podemos sugerir que essa informação não consegue atingi-los, como acontece plenamente com a televisão, por exemplo. Ou seja, não adianta ser influenciável se não tem para onde distribuir suas ideias." Para ele, as eleições no Brasil ainda são definidas pelo populismo e pelas campanhas nas ruas. "A internet é segmentada e se fecha em pequenos núcleos de eleitores que não definem eleições, até porque, na maioria das vezes, eles já têm o voto definido previamente."

A opinião é compartilhada pelo diretor da E-dialog Comunicação, Renan Caixeiro, que acredita na influência e no poder da mídia, mas sugere uma má utilização do espaço. "O maior impacto nessas eleições foi em relação à mobilização da militância de cada partido, mas que ainda não é capaz de trazer o eleitor para a causa." Ele explica que a internet funciona como uma pulverização de notícias, ou seja, transmissão de informações de forma rápida, que nem sempre são bem recebidas pelos usuários. "Como foi a primeira vez, acredito que ainda não haja um nível de maturidade para tornar essa ferramenta essencial em uma eleição", diz.

A experiência deste ano

Um dos maiores espaços onde foi possível observar a inserção de políticos foi na ferramenta Facebook. Desde perfis de candidatos criados por assessorias, grupos de discussão e até mesmo manifestações em tom de humor, a ferramenta abrigou e esquentou ideias. "Em geral, fazemos uma avaliação positiva da experiência deste ano, até mesmo porque foi um primeiro contato que os próprios candidatos tiveram com a internet, já que nunca houve uma campanha digital profissional como essa na cidade. Sentimos um feedback, o que pode ser indicativo de que alguns irão preocupar-se mais cedo com a ferramenta e, pensando na municipalidade, isso fica guardado como uma chance de reconhecimento", explica Caixeiro.

A respeito de exemplos de brincadeiras feitas com candidatos, Ferreira vê como uma forma manifestação contrária a determinadas práticas adotadas pelos políticos. "Nunca tivemos uma abstenção tão grande no país como foi este ano. As pessoas estão insatisfeitas com a política e isso reflete nas formas que elas têm de se expressar. Como a internet é um meio democrático, elas virtualizam seus protestos." Já para Caixeiro, existem os dois lados da moeda. "É difícil expressar se o movimento ajuda ou atrapalha o candidato, porque não temos pesquisa para comprovar. Mas o simples fato de um nome aparecer muitas vezes na internet, aumenta o status e pode gerar um benefício. Temos que lembrar que nem sempre o protesto virtual é explícito, logo, muitas pessoas não entendem ou não sabe a real motivação."

Neste sentido, ele lembra do exemplo vivido pela marca de calçados Arezzo recentemente, quando a empresa foi amplamente criticada a respeito de uma linha de produtos na internet. "A 'tsunami' de citações da marca acabou gerando mais acesso ao site e, consequentemente, mais vendas dos produtos. A popularização faz com que as pessoas memorizem aquele nome, sem discernir se é bom ou ruim", explica.

Dicas de utilização

As dicas para a melhor utilização das redes sociais como forma de divulgação eleitoral estão baseadas na construção de uma íntima relação com os usuários, ou seja, é importante que qualquer candidato ou militante atue no meio com certa antecedência. "Quem estiver pleiteando concorrer em 2016, não pode iniciar a participação na internet dois ou três meses antes das eleições, como foi este ano. O relacionamento não é desenvolvido do dia para a noite, ele precisa ser cultivado e expandido para que se tenha resultado", explica Caixeiro.

Outra dica é tomar cuidado com a disseminação de informações na rede online. O especialista cita o que ele chama de "panfleteira digital", ou seja, a "distribuição de 'santinhos' e números, ao invés de usar a plataforma para o diálogo". Para ele, o canal deve ser utilizado para uma comunicação além do profissional, como forma de manter a militância unida e concentrada nos partidos de oposição ou como forma de mostrar as ações, no caso do partido em situação.

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