Juliano Nery Juliano Nery 16/9/2011

É fogo!

Juliano NeryMais de 80 dias de estiagem em boa parte do Estado, mais de 170 interrupções no fornecimento de energia em 2011 e mais de cem mil consumidores já ficaram sem energia. É fogo. Literalmente, é fogo. No Salvaterra, no Santa Lúcia e, mais drasticamente, no ponto entre o Morro do Cristo e o Vale do Ipê, em que as chamas chegar a cinco metros de altura e foram necessários 20 bombeiros militares, quatro caminhões e quase 50 mil litros de água, comprovam que a temporada de incêndios deste ano alcança níveis alarmantes, a partir da baixa umidade relativa do ar. A cidade das quatro estações em 24 horas precisa fazer jus a esta alcunha e receber uma chuvinha fora de hora, dessas que costumam enganar a população em um dia ensolarado. E enquanto ela não vem, cabe a população fazer a sua parte.

Para quem vive em estradas e tem contato com a Zona Rural é comum verificar, invariavelmente, o fogo ardendo nas matas do nosso Estado. Estive, esta semana, em algumas cidades da Zona da Mata, visitando algumas propriedades e é incrível perceber a natureza do relato dos moradores em relação aos desastres oriundos do tempo seco do fim do inverno: muitos alegam que boa parte dos incêndios começa a partir da queima de lixo nas propriedades, brincadeiras e/ou vandalismo de adolescentes. O que é para ser algo inconsequente acaba tomando proporções inimagináveis...

E o pior é que todo mundo sabe que o fogo alastra com facilidade e que quem brinca com fogo, geralmente, amanhece mijado, como já enunciava a sabedoria popular. Resgatando arquivos do ano passado, por esta mesma época, escrevia um artigo sobre o mesmo assunto, com teor bastante parecido. Pensei até, por um momento, em republicar a crônica de 2010, dada a atualidade do tema e a similaridade das ocorrências. No entanto, como tenho o projeto de publicar 1.000 crônicas distintas em veículos de comunicação, toda oportunidade de contabilizar novos textos é válida!

E em tempos de mata queimada, nunca é demais lembrar que nos próximos, mais precisamente em 21 de setembro, teremos o Dia da Árvore. Escolhida como data comemorativa, pergunto se realmente temos motivos para comemorar. Será que estamos cuidando bem das nossas matas ou será que estamos negligenciando no nosso papel em prol da preservação. Talvez, em vez de data de comemoração, poderíamos transformá-la em data de reflexão... E, não se iluda em pensar que refletir é tarefa das mais fáceis. Ainda que não literal, refletir também é fogo...

Colaborando nas reflexões para o Dia da Árvore, deixo um último dado, extraído do Portal ACESSA.com: somente na última sexta-feira, 9 de setembro, 30 ocorrências de incêndio foram catalogadas pelos bombeiros. No frigir desses ovos, o que poderia ter sido evitado? E para encerrar, recorro ao brilhantismo do compositor Lenine, que inclusive me empresta o título do texto, com uma incrível letra que vale pensar "Em tanta parte, do ártico à Antártida deixamos nossa marca no planeta: aliviemos já a pior parte da tragédia anunciada com trombeta. O estrago vai ser pago pela gente toda; é foda! É fogo!... É a vida em jogo!"

Juliano Nery é fogo na roupa.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.