Galerias e calçadões de JF têm semelhanças com Buenos Aires
Nas duas cidades, as galerias conectam-se a calçadões, formando redes de passagem que garantem a centralidade e a vitalidade dessas áreas
Repórter
17/5/2012
As galerias, os calçadões de Juiz de Fora e os corpos em movimento são o foco de estudo do professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Frederico Braida. Para entender a dinâmica da região da rua Halfeld, ele utilizou como contraponto a rua Florida, em Buenos Aires, uma metodologia semelhante à utilizada pelo intelectual Massimo Canevacci que, no livro "A cidade polifônica", investigou São Paulo, lançando olhares para Roma, na Itália.
"Tanto em Juiz de Fora como em Buenos Aires, as galerias conectam-se em calçadões, formando redes de passagem que garantem a centralidade e a vitalidade dessas áreas", explica Braida, destacando o mix de funções exercido pelas galerias, como habitação, serviços, comércio, entre outras.
Foi desse estudo que nasceu o livro "Passagens em Rede: a dinâmica das galerias comerciais e dos calçadões nos centros de Juiz de Fora e de Buenos Aires", que será lançado nesta quinta-feira, 17 de maio, às 20h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Para realizar a pesquisa, feita entre 2006 e 2008, o autor utilizou acervos de bibliotecas de Juiz de Fora, Rio de Janeiro e São Paulo (Brasil), além de percorrer cidades da América Latina.
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O pontapé inicial
O arquiteto revela que, ainda na graduação, realizou pesquisa sobre as galerias e os calçadões de Juiz de Fora, levando o tema para o mestrado em Urbanismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Uma bolsa de estudo da União Europeia proporcionou a Braida ficar três meses estudando na Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. "Fui para lá, buscando entender as galerias no contexto da América Latina. Foi importante para poder olhar com distanciamento para o objeto de estudo de Juiz de Fora. Nosso caso é tratado com excepcionalidade, mas dentro da América Latina, é uma situação comum", explica. Os estudos também incluíram viagens a Mar del Plata (Argentina) e Santiago (Chile).
Ele destaca que existem muitas diferenças entre Juiz de Fora e Buenos Aires, como, por exemplo, o período de fundação — Buenos Aires em 1580 e Juiz de Fora em 1850 — e a influência espanhola em uma e portuguesa em outra, o que tem impacto direto no traçado das duas cidades. Apesar disso, elas guardam características em comum. "Encontramos lá um calçadão principal com força histórica muito grande, assim como em Juiz de Fora. Ambos foram criados na década de 1970. As primeiras galerias das duas cidades, Pio X em Juiz de Fora e General Güenes, em Buenos Aires, foram criadas na década de 1920", revela.
Memória afetiva
As galerias fazem parte da memória afetiva do pesquisador, que "nasceu" em uma delas. "O tema da pesquisa tem muito a ver com a minha memória de infância. Praticamente nasci na Galeria Salzer. Cresci brincando de pique nas galerias. Elas são um labirinto para as crianças, que tentam desvendá-las. Depois, à luz do urbanismo e de um saber mais científico, busquei compreender a lógica destes espaços", diz Braida.
Ele destaca ainda que o livro passou por reformulação para não ter texto extremamente técnico, ficando acessível a toda a população. Mesmo assim, não perdeu suas características principais, uma vez que nasceu de um texto acadêmico. Apesar disso, Braida garante que a leitura não é difícil: conceitos são apresentados, mas explicados.
O livro "Passagens em Rede: a dinâmica das galerias comerciais e dos calçadões nos centros de Juiz de Fora e de Buenos Aires" pode ser encontrado em livrarias da cidade.
Os textos são revisados por Mariana Benicá
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