Paula Medeiros Paula Medeiros 16/4/2011


Pânico 4 dá continuidade à franquia, reinventando soluções

A ideia que temos ao ver o lançamento de uma quarta continuação da franquia Pânico, quinze anos depois do lançamento do primeiro volume, é a de que Wes Craven pode ter entrado num processo de delírio. A tentativa de resgate de um dos maiores sucessos do terror dos anos 90 parecia ousada demais, fora de propósito talvez. Porém, Pânico 4 surpreende ao adotar soluções lúdicas e metalinguísticas e faz do produto final um exemplo inspirador de reinvenção.

O longa, inicialmente, traz diversas cenas cômicas, sustentadas por paródias de franquias muito extensas de filmes de terror. Esse humor é uma introdução para a ideia de que na próxima hora nos será apresentado algo além de uma simples continuação de Pânico 3. O que vemos a seguir pode ser considerado mais como um tributo aos seus antecessores do que uma extensão propriamente dita. Ao resgatar a história do assassino serial que aterrorizava a pacata Woodsboro anos antes, o roteirista, Kevin Williamson, resolveu brincar com a própria trama. Os personagens passam, então, a acreditar que Ghostface — o serial killer — estava trazendo para a vida real um remake de Stab, filme fictício baseado no livro de Gale Weathers (Courtney Cox), que narra o drama de Sydney Prescott (Neve Campbell) durante os primeiros ataques.

E é essa metalinguagem que sustenta o filme. Uma vez que Pânico 4 aborda a questão dos remakes e a existência de franquias inesgotáveis de filmes de grande sucesso, ele conquista o público por não ser apenas mais um do mesmo. Falar de si com bom humor, despretensão e humildade, trouxe muito mais valor ao filme do que uma mera continuação mediana.

Craven foi totalmente consciente em relação ao que tinha em suas mãos. As referências a grandes clássicos do horror, como Halloween e Sexta-feira 13 e a menção a diretores do gênero, como Robert Rodriguez, sustentaram a ideia de que o filme não bastaria sendo apenas uma sucessão de acontecimentos de Pânico 3. Sua direção também vai além disso. Os sustos exagerados, as jorradas de sangue e a habilidade de Ghostface garantiram o tom essencial do terror trash que uma produção como essa incita.

Levando em consideração a subcategoria em que a franquia se encontra, a do horror teen, aparece outro ponto alto do filme. Essa denominação, que surge pela grande quantidade de referenciais da cultura jovem inseridos no roteiro, foi muito bem amparada pelos elementos escolhidos. A aposta em temas como redes sociais, celulares e transmissões em tempo real para a web foi certeira. Em tempos de total conectividade, nada mais atual do que discutir a exibição ao vivo de um assassinato, tema proposto pelos geeks de Pânico 4.

Importantes para a ambientação desse clima foram os atores escalados. O elenco jovem, que abriga Emma Roberts, Rory Culkin e Hayden Paniettiere, manteve o nível dos personagens veteranos da trama. Courteney Cox pareceu bastante descontraída em seu papel, mais do que nos anteriores. Talvez essa leveza seja um pequeno resquício dos tantos anos que passou em Friends. Neve Campbell volta, depois desses anos todos, e mantém o perfil clássico de Sidney. Chamada de Anjo da Morte por aqueles que a rodeiam, ela continua sendo a garota amaldiçoada que, por algum motivo, sobrevive bravamente às insistentes tentativas de assassinato de Ghostface.

A impressão mais positiva que Pânico 4 deixa é a de que uma homenagem foi prestada a uma geração de filmes que ficou lá na década de 90. Inúmeras tentativas de resgatar o terror teen já foram executadas. Todas em vão, como no caso de Dia dos Namorados Macabro 3D e o remake de Sexta-feira 13. Como fica claro no próprio roteiro, talvez a chave do sucesso não esteja em repetir fórmulas que funcionam bem, mas sim, em acrescentar outros pontos de vista e outras soluções àquilo que já se esgotou.

Pânico 4 / Scream 4

EUA , 2011 - 111 minutos
Terror
Direção: Wes Craven
Roteiro: Kevin Williamson
Elenco: Neve Campbell, Emma Roberts, Courteney Cox, David Arquette, Marielle Jaffe, Rory Culkin, Erik Knudsen, Hayden Paniettiere, Marley Shelton, Adam Brody, Anthony Anderson, Marielle Jaffe, Nico Tortorella, Anna Paquin e Kristen Bell


Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.