Paulo César Paulo César 19/9/2011

Muito sangue e pouco texto em Conan, o Bárbaro

Quase três décadas após a versão dirigida por John Milius, Conan, o Bárbaro volta aos cinemas com uma proposta muito mais sangrenta e fiel à história criada por Robert E. Howard em 1932, porém mostrando deficiências que fazem dele mais uma adaptação abaixo do esperado.

O mais famoso herói do gênero "Espadas∕Feiticeiros" teve mais uma chance de mostrar no cinema todo seu universo, composto por história, mito e violência, e agradar seus inúmeros fãs por todo o planeta. Entretanto, este novo filme não traz nada de mais para o público. Desde o início, o roteiro de Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheiner prima pelas pesadas cenas de batalha, deixando de pensar no texto como complemento da imagem.

A história conta a saga de Conan (Jason Momoa), que nascido em campo de batalha cresceu aprendendo a arte da espada. Quando o malvado Khalar Zym (Stephen Lang) invade a Ciméria para se apoderar do último pedaço de uma poderosa máscara e mata seu pai, o jovem jura vingança. Tempos depois, Conan descobre o paradeiro de Zym e além de se vingar, terá de salvar sua paixão Tamara (Rachel Nichols), que foi capturada para ser sacrificada pelo vilão em um ritual de magia que poderá o deixar invencível.

Há diversos elementos neste filme dirigido pelo alemão Marcus Nispel (Sexta-feira 13, O Massacre da Serra Elétrica) que decepcionam logo de cara. O maior deles é a falta de texto nas cenas, que mesmo não sendo monossilábica como a versão estrelada por Arnold Schwarzenegger, deixa as sequências à deriva e a mercê da pancadaria exacerbada. Os adversários do cimério nem se dão ao luxo de falar, apenas gesticulam, emitem grunhidos e urram.

As batalhas são um ponto positivo do longa, já que se aproximam do teor violentíssimo apresentado nos originais de Howard. Entretanto, mesmo bem feitas, elas são mal desenvolvidas e ficam parecendo pequenos spots de algum game que pipocam a todo o momento na tela, sem acrescentar nada à semântica e a evolução narrativa. Não há um planejamento nos ataques do bárbaro, suas incursões são impetuosas e desleixadas, ignorando uma das principais virtudes do personagem que é a astúcia.

O bronzeado Jason Momoa pode até ser melhor do que Schwarzenegger (o que não é nenhum grande mérito), porém é menos carismático e excessivamente transtornado, deixando de lado mais uma das características marcantes de Conan, que é ser o melhor exemplo de "brucutu sensato" de toda literatura fantástica. Se não fosse pela esforçada participação de Ron Pearlman (HellBoy) como o sábio pai do herói, o elenco nem mereceria qualquer menção.

Por fim, o esperado confronto com Khalar Zym é frio e bobo, e apresenta um enorme leque dos já conhecidos clichês de filmes do gênero. Com uma grande história nas mãos, Marcus Nispel provou que só entende mesmo é de sangue, e perdeu a grande oportunidade de ver sua carreira deslanchar. Em linhas gerais, veio com a missão de usar os recursos técnicos para fazer todos esquecerem o mediano filme de 1982, mas só conseguiu mesmo é dar mais ênfase ao modesto trabalho de Milius.

Mais críticas

Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema. Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.