Paulo César Paulo César 30/12/2011

Roteiro pobre ofusca o belo visual de Imortais

Adaptar uma obra complexa e, às vezes, subjetiva como é a Mitologia Grega para o cinema é um desafio que a maioria dos produtores não abençoa, muito menos patrocinam. Sem levar isso em consideração, o diretor Tarsem Singh conduziu Imortais, um filme de aura moderna, com o visual nos padrões de 300, mas que traz um roteiro inocente, com inúmeras falhas na construção do nexo cinematográfico e abusa na desconstrução da mitologia de Teseu. Além de criar um meio termo entre a adaptação direta e algo parecido com um épico medieval que, aos poucos, leva o público a associá-lo com a Saga do Anel, de J. R. R. Tolkien.

Na trama, Hyperion (Mickey Rourke) revolta-se com os Deuses do Olimpo por achar que estes não o ampararam quando mais precisou, então decide reunir seu exército e sair em busca do arco sagrado, que lhe daria poder de soltar os Titãs, presos no Monte Tártaro, para assim provocar uma guerra entre deuses. Entretanto, Zeus (Luke Evans) convoca Teseu (Henry Cavill), um jovem guerreiro camponês, para comandar o exército que impedirá os planos de Hyperion.

O epílogo de abertura do filme chega a empolgar, com as belas imagens digitalizadas. Porém, o incômodo começa a transparecer quando se percebe que o argumento se enfraquece a cada sequência em que se sente a falta de textos coerentes. Os roteiristas perdem-se em meio às batalhas sem sentido e aos acontecimentos sem explicação. O que fica claro é que a tentativa de criar uma mitologia pop, assim como o teen Percy Jackson e o Ladrão de Raios, conduziu o filme para uma sucessão de referências a outras obras. A parte final é claramente uma alusão à batalha em frente ao portão negro de Mordor, sendo que o Tártaro, onde os momentos decisivos acontecem, pode ser comparado à Montanha da Perdição.

A licença poética é saudável ao cinema. Mas deixar de dar importância à passagem mais interessante da saga de Teseu, quando enfrenta o Minotauro no labirinto, é demais. No longa, o bovino humanóide é representado por um brutamontes com capacete de touro. Um fato lamentável, já que o mote poderia ter sido o ponto de referência. Outra questão é falta de fundamentos em certos acontecimentos (o de como o arco foi parar na tumba da mãe dele, por exemplo).

O diretor tentou se escorar no visual fantástico, com adrenalina e banhos de sangue esporádicos. Porém as lutas foram mal planejadas e são resolvidas como briguinhas bobas. Na pior delas, o protagonista perde o arco de forma estúpida e sem esboçar nenhum tipo de resistência. Ficou clara a ausência de imaginação para que os embates fossem solucionados de forma mais ágeis. Isso com uma bela contribuição dos atores, que, principalmente, no último confronto de Teseu e Hyperion, demonstraram grande superficialidade em meios ao sangue exagerado.

O único aspecto que se pode tirar do filme é que não há um meio-termo em uma adaptação tão complexa. Ou se baseia nela para criar um novo universo, como em Percy Jackson, ou a faz diretamente, como em Fúria de Titãs. Aliás, este, dirigido por Ray Harryhaussen, em 1981, é a melhor dentre as transposições mitológicas para as telonas. O que espanta é que ante a tanta falta de novas ideias no mundo cinematográfico, não se consegue nem mesmo fazer o simples de um argumento rico e pré-concebido.

Mais críticas

Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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