Paulo César Paulo César 2/6/2012

Branca de Neve e o Caçador tem roteiro sombrio e atraente, mas peca na concepção

Quase dois meses depois de Espelho, espelho meu, mais uma adaptação do conto dos Irmãos Grimm, datado do século XIII, e imortalizado pelos estúdios Disney em 1937, chega aos cinemas com uma pegada mais sombria e assustadora do que a original e substituindo os "sete anões" pelo caçador no título. Entretanto, Branca de Neve e o Caçador mostra-se bem inferior à sua pretensão e, se não fosse pelo fator novidade e a boa atuação de Charlize Theron como a rainha má Ravenna, seria inferior ao seu "irmão" dois meses mais jovem.

A história quase todo mundo conhece. A rainha má Ravenna (Charlize Theron) casa-se com o rei, mas logo dá um jeito de "dar cabo" dele, e mantém em cárcere a enteada Branca de Neve (Kirsten Stewart). Quando o espelho mágico revela que a moça já havia lhe superado em beleza, ela decide também dar fim à jovem e, com isso, ter a juventude eterna. Porém, Branca consegue fugir e a rainha manda o Caçador (Chris Hemsworth) em seu encalço e levá-la de volta ao castelo. Mas as coisas mudam e os dois se unem para comandar a rebelião que poderá colocar fim à tirania da vilã.

O roteiro é ambicioso. Desvirtuar o texto original de uma forma que ganhasse ares épicos e elementos fantásticos que remetem a grandes obras do gênero como O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia foi um trunfo que chama maior atenção para o filme. Além disso, a construção de uma nova Branca de Neve, não mais frágil e dependente como nos textos anteriores, como uma guerreira e líder, também foi uma surpresa. A personagem ficou evidentemente inspirada em Joana D'arc (tanto que ela reza e comanda uma batalha usando armadura).

Porém, a concepção não sai como o esperado. O diretor Rupert Sanders conduziu um filme apressado, que não soube aproveitar da boa fotografia que o cenário natural britânico oferece. O roteiro torna-se vago e previsível com o passar do tempo, e parece ficar indeciso a respeito de qual rumo tomar. As situações-chave soam pueris, como por exemplo, o Caçador sai à procura de sua presa, a encontra tão rápido quanto se rende aos encantos da mocinha, sem ao menos uma tensão dramática. Além disso, a forma em que os anões entram na história é estereotipada, já que a eles ficar incumbido o mote cômico era mais do que esperado. O interesse pela história vai, aos poucos, se degradando, principalmente quando a personagem de Theron vai perdendo espaço para um pseudo romance triangular de Branca de Neve com o seu amigo Willian (Sam Claflin) e o Caçador.

Em seu processo para se desvencilhar da Bella Swan da saga Crepúsculo, Kristen Stewart perdeu a primeira chance. Em meio ao ar fantasioso do filme, é possível reconhecer a menina apaixonada pelo vampiro Edward, o que não condiz com a realidade desta nova Branca de Neve, guerreira e determinada. Chris Hemsworth é limitado, e totalmente refém de sua falta de talento. O excelente time de "anões" comandado por Bob Hoskins, Ian McShane e Toby Jones, que só pelo seu talento fazem as tiradas cômicas bobas serem engraçadas. Mas quem "salva a lavoura" mesmo é Charlize Theron. Sua Ravenna é assustadora e seu comportamento transtornado prova que pode ser a grande atriz que se mostrou em meados da década passada.

No fim das contas fica a impressão que esta versão de Branca de Neve merecia muito mais do que foi mostrado na tela. Talvez uma duração maior da película daria às sequências o sentido que não tiveram e uma inserção maior de criaturas fantásticas e batalhas o transformariam no blockbuster que não se tornou. Sobrou um filme adulto feito para crianças, que é assustador, violento e obscuro, porém, bobo e superficial.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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