Paulo César Paulo César 30/6/2012

Sem Carlos Saldanha na direção, A Era do Gelo 4 perde qualidade e não empolga

Dizem que tudo tem seu momento de sair de cena, ainda mais quando se trata de algo que tenha dado certo, que viva sob os louros conquistados em seu glorioso passado. E esta é uma sentença válida para A Era do Gelo 4, que não consegue ser engraçado e divertido como seus antecessores. E o principal fator que acentua a baixa de qualidade são as ausências de Chris Wedge e do brasileiro Carlos Saldanha, mentores da franquia, na condução do longa.

A história se passa em algum lugar do passado, já que desde o primeiro filme há pouca preocupação em sincronizar o tempo cronológico com a história da Terra, e novamente os amigos, o mamute Manny, o tigre-dentes-de-sabre Diego e a preguiça Sid são postos em uma aventura, depois que o esganado esquilo Scrat divide o planeta, antes formado por uma só porção de terra, em meia dúzia de continentes. O grandalhão Manny precisará da ajuda dos companheiros para reencontrar sua esposa Elle e sua filha Amora, que lideram uma marcha para fugir de um paredão que avança sobre o lugar onde moram. Mas nada será fácil depois que cruzarem o caminho de Entranha, um abilolado macaco pirata, que não gosta de levar desaforo para o seu navio iceberg.

A verdade é que A Era do Gelo é um nonsense cômico desde seu nascimento, e não procura nada, além das gargalhadas do público em seus filmes, ou pelo menos era, até então. O roteiro, que desta vez não contou com Wedge e nem Saldanha em sua confecção, adicionou à receita uma pitada de sentimentalismo barato e repleto de clichês de sessão da tarde, e pronto, desconstruiu toda a magia. Tudo bem, os outros três filmes tinham, sim, seus momentos de reflexão em meio às bobagens escatológicas do bando, mas enfiar uma discussão sobre relacionamentos de pais e filhos, além de ser uma exagero de mau gosto, de tão batido tornou-se piegas.

A dupla de diretores que orquestraram a aventura, Steve Martino e Mike Thurmeier, devem ter se arrependido de aceitar o trabalho. Pois, assim como Shrek, as desventuras de Manny, Diego, Sid e Cia. já demonstravam sinais de desgaste no terceiro filme, sendo totalmente dispensável que mais um capítulo fosse escrito. Ficaram reféns de um dilema, mudar ou continuar, optaram pela primeira e o resultado não foi o esperado.

Carlos Saldanha, mesmo fora da direção e do roteiro, ainda é o grande nome do filme. O personagem que ele próprio criou e dublou, o Scrat, continua sendo um obelisco que exala um humor contagiante. Sua trama em paralelo aos infortúnios dos outros personagens, mesmo que seus caminhos se entrelacem vez ou outra, é o ponto forte, pois se mantém fiel aos devaneios paranóicos que conquistaram o público em 2002. Se a franquia tiver seu fim com este longa, é provável que faça carreira solo, como os Pinguins de Madagascar.

A Era do Gelo 4 faz rir, e tem seus momentos que rememorarão os velhos tempos. Porém, é um filme fraco a partir do instante em que o público se lembrar do quanto são superiores seus antecessores. Se não lançarem outro filme, será uma lamentável despedida dos cinemas do bando incomum que alegrou o coração de crianças de todas as idades. Mas se resolverem emplacar o "cinco", sinto ainda muito mais pena deles.



 Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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