Paulo César Paulo César 18/8/2012

Remake do cult O Vingador do Futuro aposta em ritmo frenético e efeitos visuais para tentar surpreender

Colocar em prática a ideia de adaptar um cult movie de um dos gêneros que obtêm os fiéis seguidores mais exigentes, como é a ficção científica, era uma tarefa deveras arriscada. Caso não seja um reboot (releitura), como foram os últimos filmes do Batman e do Homem-Aranha, corre o grave risco de não passar pela malha fina da crítica. Porém, o diretor Len Wiseman consegue dar um pouco de vida ao longa, usando a mística do desconexo de tempo e espaço consagrado no filme de Paul Verhooven, incorporando elementos do cinema contemporâneo como a montagem frenética e efeitos visuais de primeira classe.

A história se passa em um mundo dividido em duas comunidades que ainda habitam na terra após uma catástrofe biológica, a Federação Unida da Bretanha (basicamente a Europa) e a Colônia (a Oceania), ligadas pela "queda", um túnel com elevador gigantesco que as une. Doug Quaid (Colin Farrel) é morador da Colônia e assim como todos por lá. Vive atormentado por sonhos estranhos com uma bela jovem morena, mas acorda ao lado de outra bela mulher, Lori (Kate Beckinsale). Quando conhece o programa da empresa Rekall, que promete implantar novas lembranças em sua memória. Mas algo sai errado, e ele se vê como um inimigo do Chanceler Cohaagen (Bryan Cranston) que pretende eliminá-lo juntamente com os rebeldes da Colônia.

O arcabouço da trama é praticamente o mesmo do filme de 1990, entretanto, a narrativa foi transferida para um futuro mais influenciado pelos grandes avanços tecnológicos, além das ações de conflito social, deslocados do eixo Terra-Marte, somente para o nosso planeta. Isso fez com que o roteiro de Mark Bomback e Kurt Wimmer ganhasse em agilidade, facilitando a tarefa de cair no gosto do público jovem. A forma em que foi incorporado ao elemento central uma ideia, mesmo que rasteira, da segregação social controlando o mundo foi uma boa sacada, afastando mais ainda da primeira versão.

O trabalho de Wiseman é tão barulhento e corrido quanto o irregular Anjos da Noite 4, no qual abusou de tiros e bombardeios, artífices audiovisuais que incomodavam. Mas no caso deste O vingador do Futuro, tudo o que estava presente era para ser usado, ainda pela qualidade inegável dos efeitos digitais. Porém, este foi o veneno do diretor. No momento em que poderia tornar esta produção marcante, optou por levar a correria frenética até o último suspiro, deixando o desfecho batido sem um encerramento que contentasse àqueles que não se satisfizeram com o apagar das luzes do filme de Verhoeven.

Aquele tom gótico e obscuro, com seres bizarros que tornaram o filme original um grande fenômeno não conseguiu ser substituído à altura pelo frenesi tecnológico. Outro fator que deixa a desejar é a escolha dos atores, já que Farrel é inexpressivo, tanto quanto Arnold Schwarzenegger, porém não possui o carisma que alçou o segundo ao estrelato. Jessica Biel e Kate Beckinsale estão muito presas nos elementos estereotipados que caracterizavam a mocinha e a vilã, sem esforço nenhum por parte de ambas. Bill Nighy quase não é percebido e Bryan Cranston está preso a um personagem hiperbólico.

Contudo, esse novo O vingador do Futuro não é nenhuma bomba, e pode agradar ao público, principalmente quem não teve a oportunidade de assistir ao primeiro. Mas esse "recall" da obra imortal de Philip K. Dick poderia ter sido mais bem planejado. Talvez, o problema até seja a grande pretensão dos produtores, mas o determinante para que este exemplar caia na categoria passatempo descartável é o excelente trabalho de Verhoeven em 1990. Isso é fato.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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