Sacha Baron Cohen retorna à comédia ácida no exagerado O Ditador
Quando um subgênero surge no cinema, as produtoras afoitas por sucesso econômico não se contêm em saturar o público, até que ele se canse, ou perca a maioria dos adeptos. Em 2006, Sacha Baron Cohen levou seu repórter fake Borat aos cinemas, estarreceu o público com as situações bizarras que "o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão" proporcionou em seu tour pela América, mas agradou a crítica com um novo braço da comédia, o falso documentário. Seis anos depois, e um malfadado longa no período, o repugnante Bruno (2009), Cohen deixou de lado o falso "doc", criando um filme que peca por gags inverossímeis e estúpidas, e apela a um romance sem graça.
Na trama, o ditador do fictício país Wadiya, no Oriente Médio, Aladeen (Sacha Baron Cohen) é odiado pelo povo e pelos seus conselheiros, inclusive seu tio e sucessor Tamir (Ben Kingsley). Quando vê seu plano de fabricar armas de destruição em massa ameaçado pela ONU, resolve viajar para Nova Iorque e discursar em uma assembleia para impor a soberania de seu país e firmar a ditadura. Porém, conspirações o colocam em apuros e, sozinho na cidade, precisará da ajuda da militante Zoey (Anna Faris) para retornar a tempo de evitar o fim de seu governo.
A caricatura criada por Cohen remete aos tiranos da região de origem de seu personagem, e tem o mérito de expor o lado patético e ridículo que constituem a personalidade de tais governantes, porém, com uma grande forçada de barra do ator. Entretanto, o seu roteiro não funciona como esperado, principalmente por perder o fator "surpresa" que deixava as pessoas que compunham as cenas desconcertadas, e garantiam mais graça às situações, pois todos riam do comportamento destas em relação ao comportamento dos personagens Borat e Bruno. A relação de Aladeen com Zoey não acrescenta nada, além de sequências de mau gosto promíscuo e discursos racistas e ofensivos.
As bobagens foram tantas e tão ininterruptas que mal se digere uma situação esdrúxula, e outra já toma espaço. A participação de Anna Faris chega a ser dispensável, já que a moça nem parece ser a mesma que consegue algumas gargalhadas em Todo mundo em pânico e A casa das coelhinhas, é absorvida pela centralização do texto em Aladeen. E Ben Kingsley deve ter recebido muito para aceitar um papel pequeno em um filmes desses. Pior, só as aparições de Megan Fox e Edward Norton como eles mesmos "fazendo programa", vergonhoso.
Só Cohen consegue dar raros momentos de graça genuína ao filme, e deixa claro que se tivesse sido bem trabalhado, seu personagem poderia ter rendido boas gargalhadas. Um filme que conseguirá satisfazer um público acostumado a bobagens estilo MTV, mas que, provavelmente, não escapará ao exorcismo se comparado a Borat. E pensar que Chaplin fez humor das idiotices de um tirano muito mais terrível que os de hoje no histórico O grande ditador (1940), e trouxe uma linda mensagem, sem palavrões e gags preconceituosas. Esse sim fazia comédia de verdade.
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Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.
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