Victor Bitarello Victor Bitarello 31/1/2014

Sobre meninos e bobos em Wall Street

loboJean DuJardin recebeu o Oscar de melhor ator em 2012 por uma atuação magnífica no premiado "O artista". Aliás, diga-se de passagem, apreciar seu trabalho é, no meu humilde ver, a única razão para assistir o filme que o consagrou. Jean lembra um pouco Clark Gable, tem um sorriso charmoso e um olhar penetrante. Passa confiança. É um galã. Um clássico galã.

Matthew McConaughey é um ator mais popular em termos de públicos norte-americano e brasileiro já há mais tempo. Apesar de sempre apresentar um bom trabalho, Matthew está bem próximo de atingir o ápice da carreira de um ator estadunidense e receber um Oscar de atuação masculina por seu desempenho em "Dallas Buyers Club". Aguardemos as indicações.

Margot Robbie foi uma das aeromoças no seriado Pan Am, que no Brasil era transmitido pelo canal Sony. Eu gostava, mas ele não teve audiência suficiente para se manter no ar e foi cancelado. Margot é uma mulher exuberantemente linda. Em "O lobo de Wall Street" ela está, mais que nunca, linda. Ainda não me sinto à vontade para apostar, ou deixar de apostar, em Margot. Preciso de um pouco mais de coisas dela pra dizer o que penso dessa moça.

Leonardo DiCaprio dispensa qualquer tipo de introdução, creio eu. É um ator enormemente carismático, com olhos azuis que ainda são capazes de fazer Rose posar nua para ele e continua bastante apto a levar o pessoal a assistir a um filme que exiba seu rosto no cartaz.

Aí fica uma pergunta: por que falar desses profissionais?

Por que?

A resposta é consideravelmente fácil.

Eles são o ÚNICO prazer que se terá ao assistir o inexplicável "O lobo de Wall Street".

Rever Jean e Margot, babar com a atuação de Matthew, admirar a beleza de Leo, são as únicas distrações que "O lobo" oferece. De resto, o filme é, simples e simples, horrível.

Trata-se da história de um homem chamado Jordan Belfort, que aprende a ser um corretor sem escrúpulos e, aos poucos, vai se tornando um milionário. Ele se torna um milionário. Transa com prostitutas. Grita no escritório. Usa drogas. Continua um milionário. Transa com prostitutas. Grita no escritório. Usa drogas. Continua um milionário. Transa com prostitutas. Grita no escritório. Usa drogas. A repetição aqui não se dá a toa. Serve para se ter um pouco da ideia do quanto o longa metragem é CHATO. É vazio, é dispensável, é bobo. É, como em regra são os filmes de Martin Scorsese, um filme em que me pergunto o tempo todo: caramba, por que cargas d'água ele está me contando essa história? Não que eu pense que todo filme deve carregar uma mensagem ou uma proposta de reflexão, não. Os filmes também podem significar somente um momento de diversão, por que não? "O lobo" não é nem uma coisa, nem outra. Chega uma hora em que, de tão estafado de assistir o mesmo acontecimento pela milésima vez, a solução é ir ao banheiro para esticar um pouco e distrair o sono. Aliás, provavelmente, enquanto dirigia seu filme, imaginando todo o aborrecimento que passaríamos diante da tela, Scorsese devia debochar do público, assim como o personagem principal faz com os investidores de ações.

É uma pena DiCaprio ser seu queridinho. Está ficando difícil assisti-lo sem quase ficar com raiva. E o mais interessante é que poucos diretores conseguem torná-lo tão chato. O trabalho dele no filme é tão exagerado, tão "preciso ganhar no grito", que quem eventualmente não o conheça pode até pensar que ele não é um bom ator. Estranho ele ter batido quatro concorrentes e ganhar o Globo de Ouro este ano. Leonardo põe muita energia e vigor em suas atuações, mas falta nele algo como um dom. É como se ele tivesse aprendido a atuar bem, mas sem ter um talento que "venha de dentro".

filmeApesar de tudo, temos o prazer, mesmo que curto, de admirar Matthew McConaughey num papel em que ele está tão incrível que a gente até demora a reconhecê-lo. E, nas poucas cenas em que aparece, fica tão clara a superioridade de seu trabalho sobre o de Leonardo... Matthew está fabuloso como Mark Hanna, o primeiro chefe de Jordan. Suas expressões estão bem colocadas, seu rosto está certo, no ponto. Foi muito legal apreciar sua curta participação.

Enfim...

Lembro que em 2003 estreou um filme chamado "Mystic river", que no Brasil recebeu o título "Sobre meninos e lobos", e deu o primeiro Oscar de melhor ator para um dos meus mais queridos atores estadunidenses, Sean Penn. "Sobre meninos e lobos" é mais um trabalho formidável do ator e diretor Clint Eastwood. Conta também, de certa forma, a história de um homem que se mostra sem escrúpulos ao longo da trama para atingir aquilo que acreditava ser o certo. Então, eis que em 2013, dez anos após, mais um filme recebe, no Brasil, a palavra "lobo" em seu título. No entanto, com um roteiro tão chato e repetitivo, com histórias de homens tão nada, tão bobos, teria sido melhor ficarmos só com "Sobre meninos e lobos" mesmo, deixando "O lobo" de Scorsese só pra eles aturarem por lá.


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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