Victor Bitarello Victor Bitarello 17/03/2016

“A Garota Dinamarquesa”, um filme sobre dor e amor

filme“A Garota Dinamarquesa” não é um filme atraente em termos de, digamos, velocidade. Pessoas que não têm afinidade com filmes mais lentos, com velocidade menor de diálogos e decorrer de acontecimentos, não gostarão.

Ele pode agradar basicamente a dois tipos de público. Quem gosta de uma história bonita, sensível e envolvendo muita coragem, ou então a quem gosta de observar lindas construções antigas, as quais muitas vezes não vemos nos filmes mais populares. Eu, por exemplo, não conheço a Europa. E as cenas que se passam mostrando os prédios antigos da Dinamarca, com a reconstrução de costumes da época - como os vendedores de alimentos em bicicletas, ou o baile dos artistas - nossa! Como são lindas! Então, nesses dois aspectos, o filme apresenta algo muito de bom a ser visto e apreciado.

O trabalho dramático é muito intenso no filme. Sem pressa num primeiro momento, no qual o medo toma muita conta do personagem principal (ou da personagem, já que se trata de um rapaz que se identifica como mulher), fazendo-o levar a vida de uma forma convencional, a história vai se tornando mais ritmada, quando ele começa a soltar suas amarrar e buscar vorazmente a realização de seu eu, ou seja, identificar-se, também fisicamente, com uma mulher. Como se trata de um trabalho de direção muito bem feito, no qual o diretor conseguiu tirar atuações maravilhosas de Alicia Vikander e Eddie Redmayne, com foto e cenário fantásticos, a lentidão inicial não incomoda, pelo contrário, ela toca a gente. Porque a dor de Lily, quando começa a ser transmitida, nos sensibiliza.

Um detalhe lindo do filme (e essa é uma excelente palavra) é a relação entre o casal. Ao perceber a situação do marido, a esposa, mesmo tendo uma reação inicial de tristeza, se põe a ajudá-lo, antevendo que ele precisará demais de uma amiga, que não encontrará em lugar algum. É muito comovente o amor que ela sente por aquela pessoa e o que ela faz dar apoio. Aliás, muito provavelmente, foi o que deu o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Alicia, porque ela está muito bem no filme, com um desempenho forte e marcante, mas minha opinião o trabalho de Rooney Mara, em “Carol”, foi mais interessante e completo, merecendo mais o reconhecimento.

É importante saber que ele não será o melhor filme da sua vida, para que não se espere muito, mas é um bom trabalho, que vale muito a pena de ser assistido. E traz também Eddie Redmayne, vencedor do Oscar de melhor ator por “A Teoria de Tudo”, novamente se preocupando com cada detalhe, todos muito bem elaborados, como se ele pensasse no piscar de olhos ideal para cada momento.

“A Garota Dinamarquesa” é baseado em uma história real, o que facilita a promoção do choque. Quando começamos a prestar atenção aos absurdos da época, ao sofrimento que aquela pessoa passa em virtude de sua transsexualidade, é possível refletir sobre como somos ignorantes. Como somos capazes de impor tanto peso a alguém, somente porque temos dificuldade de lidar com uma característica que a maioria das pessoas não possui. Alguém que não está cometendo crime algum. O filme é capaz de nos fazer refletir sobre a aptidão da ignorância em violar e ser cruel. Que essa reflexão aconteça, e gere resultados positivos!


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.

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