Pol?mica e pol?tica no Oscar 2006

Marcelo Miranda
Rep?rter
03/03/2006

Mais um ano, mais um Oscar. Neste domingo, dia 5 de mar?o, a aten??o de cin?filos e curiosos estar? voltada para a 78? edi??o da festa mais conhecida e badalada do cinema americano. Em 2006, s?o 40 filmes na disputa em 24 categorias, todos de olho na cobi?ada estatueta dourada entregue pela Academia de Artes e Ci?ncias Cinematogr?ficas de Hollywood.

O favorito para este ano ? o drama "O Segredo de Brokeback Mountain" (foto abaixo - clique aqui para assistir ao trailer), do taiwan?s Ang Lee. O filme concorre a oito pr?mios, incluindo melhor filme, dire??o, ator (Heath Ledger), coadjuvantes (Jake Gyllenhaal e Michelle Williams) e roteiro adaptado. Em seguida v?m empatados "Boa Noite e Boa Sorte", "Crash - No Limite" e "Mem?rias de uma Gueixa", com seis indica?es cada um - sendo que este ?ltimo disputa apenas categorias t?cnicas, e os outros dois est?o no p?reo com a produ??o de Ang Lee na briga principal.

Outros destaques da premia??o em 2006 ? o thriller pol?tico "Munique", de Steven Spielberg, sobre a rea??o israelense aos atentados palestinos nas Olimp?adas da Alemanha de 1972; e as cinebiografias "Capote", que retrata a concep??o do livro "A Sangue Frio", escrito pelo jornalista Truman Capote; e "Johnny e June", ficcionaliza??o da vida do cantor country Johnny Cash e toda a sua rela??o com a cantora June Carter, desde quando se conheceram em meio aos shows at? o dia em que ele a pediu em casamento numa apresenta??o ao vivo.

Para se entender e acompanhar o Oscar deste ano, ? preciso ter em mente dois eixos centrais sobre os filmes concorrentes: h? uma ala de trabalhos politizados e outra de produ?es com tem?tica homossexual - em ambos os casos, a Academia, que define os finalistas, se mostrou com a cabe?a mais aberta que em anos anteriores. Afinal, uma das particularidades do Oscar sempre foi seu conservadorismo com projetos ousados e fora dos "padr?es" impostos pela grande ind?stria. E as decis?es da Academia sobre quais filmes premiar t?m grande peso, pois refletem o olhar do maior conglomerado de entretenimento do mundo sobre a realidade ao seu redor. Um filme vencedor pode tanto representar alguma conscientiza??o quanto certa aliena??o.

No ano passado, por exemplo, a vit?ria de "Menina de Ouro" e "Mar Adentro" em categorias de melhor filme foi emblem?tica: dois filmes que falam de eutan?sia, assunto controverso desde sempre, agora ainda mais em voga durante os fechados anos da nova Era Bush nos EUA. Abalizar estes dois trabalhos serviu de recado certeiro contra as posi?es do presidente.

Nilson Alvarenga (ao lado), professor de Introdu??o ao Cinema na UFJF e membro do grupo Luzes da Cidade, acredita que, mesmo com as ousadias tem?ticas, o Oscar continua com car?ter conservador no que se refere ? linguagem. "O favorito, por exemplo, que ? o filme do Ang Lee, se apresenta tematicamente pol?mico para os padr?es morais americanos, mas formalmente ainda preso a amarras narrativas cl?ssicas e pr?-estabelecidas", diz. "O que vem acontecendo ? que a pr?pria realidade atual tem for?ado os membros da Academia a abrirem mais seu campo de vis?o e reconhecer um tipo de cinema menos americanizado e mais global, no sentido de abordar assuntos de cunho pol?tico, moral ou sobre minorias".

O professor enxerga a vit?ria de "Menina de Ouro" no ano passado como um importante passo nesse sentido. "Finalmente a Academia deixou de lado o entretenimento simplista dos anos anteriores, marcado pela participa??o da trilogia "O Senhor dos An?is", para dar aten??o a filmes que n?o querem apenas agradar ao p?blico, mas tocar em pontos que mexem com nossas cabe?as".

Segundo F?bio Silvestre Cardoso, jornalista paulista e co-editor do site Digestivo Cultural, o Oscar n?o ? liberal sob nenhum aspecto. Para tentar fazer entender sua "teoria", F?bio exemplifica com duas ocasi?es: em 2002, quando tr?s artistas negros foram agraciados na festa (Denzel Washington, Halle Berry e Sidney Poitier), quebrando um tabu de d?cadas; e justamente em 2005, ao reconhecer dois filmes com o mesmo tema provocador - a eutan?sia. E agora, este ano, aparecem v?rios trabalhos tratando de pol?tica e identidade sexual. "O Oscar ? t?o conservador que, ao tentar se mostrar liberal, acumula tudo num ano s?, para depois voltar a ser o mesmo de antes", afirma o jornalista.

Tamanha discuss?o porque o mais cotado para ser o grande vencedor da noite de domingo trata de uma rela??o amorosa (e secreta) entre dois cowboys nas montanhas do Wyoming. "O Segredo de Brokeback Mountain" vem de uma trajet?ria coroada de ?xitos e conquistas, iniciada com o Le?o de Ouro no Festival de Veneza (It?lia), em meados do ano passado, passando pelo Globo de Ouro em janeiro e, agora, liderando no Oscar. Mas seria a Academia capaz de dar seu aval a um filme que explicita na tela o envolvimento ?ntimo de dois homens numa realidade dominada pelo machismo e pelo preconceito?

A cerim?nia ser? transmitida ao vivo pelo canal pago TNT a partir das 22h30. Em rede aberta, a Globo deve come?ar a apresentar a festa ap?s o Big Brother Brasil.