Alem?o

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Alem?o
 Victor Bitarello 27/03/2014

Alemão

Uma pessoa muito querida considerou "Alemão" um filme tendencioso. Disse que o mesmo induz a quem o assiste a concordar com a tomada das favelas do Rio de Janeiro pelas Unidades de Polícia Pacificadoras, as UPPs, sem antes refletir mais profundamente sobre a problemática. Eu, honestamente, acho que preferiria que o filme tivesse sido tendencioso. Assim, ao menos, ele teria sido alguma coisa.

"Alemão" conta a história de cinco policiais que se infiltraram a paisana no chamado "Complexo do Alemão", no Rio de Janeiro, à época do movimento conhecido como pacificação. Após a interceptação de um "mensageiro" dos comandos policiais, os traficantes, chefiados por "playboy" (Cauã Reymond), descobrem a ficha com fotos e nomes dos policiais e iniciam uma caçada aos mesmos. E assim o filme segue até o final.

No meu humilde entender, toda história, para ser contada, necessariamente depende de um ponto de vista. Independente de seus protagonistas serem, ou não, o referencial, o fato é que, sem um ponto de vista, não há como um fato ser contado. Esse é o maior defeito de "Alemão". Grave defeito de roteiro. Ao final do filme, é altamente plausível perguntar-se: quem, afinal de contas, está me contando essa história? É o personagem do Antônio Fagundes? É o personagem do Caio Blat? Do Cauã? Não há alguém. Não há. Não há!!! Se a história fosse interessante, legal, envolvente, talvez isso passasse despercebido. Mas sendo aborrecida e chatinha como é, não passou.

Uma outra coisa que incomodou foi a atuação de um dos maiores galãs da cena nacional atual, Cauã Reymond. Eu, desde já, compartilho que o considero um grande ator, um enorme talento. Além de ser incrivelmente bonito, Cauã tem um perfil muito amplo, que o possibilita fazer uma enorme gama de personagens, ao mesmo tempo em que passa muita credibilidade com o que faz. Mas na pele de "Playboy", Cauã está tão sem alma! Tão sem construção. Tão nada! Parece que ele se acomodou em seus bons atributos e fez o filme meio de qualquer jeito. E isso acaba mostrando também uma falhinha de direção, já que a direção podia ter tirado um pouquinho mais dele. Caio Blat continua com seu jeito meio chato, porém bom, de sempre. Aliás, eu acho que esse é um bom adjetivo para Caio Blat: "chato, porém bom". Em regra, é o que ele é. Continua sendo o "senhor faço 90% dos filmes nacionais com a impressão de que sou a mesma coisa em todos".

Para dar uma força nesse aspecto da atuação, entra o não conhecido (ao menos pra mim) Jefferson Brasil. Sem ele, o filme não precisava nem ter sido exibido. Teria sido quase motivo de chacota. A construção que ele fez de um traficante sem escrúpulos, fiel ao seu "movimento", foi perfeita. Um excelente trabalho, digno de premiação. Quem também está fabuloso, como sempre, é Antônio Fagundes. Dignidade em forma de ator é o que ele é. Sou um fã. Otávio Müller continua fazendo seus sempre bonachões e simpáticos personagens e, com isso, foi o que sempre é, simpático. Ótimo ele!

"Alemão" poderia ter aproveitado a oportunidade para mostrar às pessoas que os moradores das favelas são cidadãos, são em sua enorme maioria trabalhadores e estudantes, não merecem o medo que despertam em muita gente. Poderia ter mostrado que a marginalidade representa uma minoria. Acabou também caindo na mesmice de mostrar algumas cenas e depoimentos reais da época, o que já foi usado, por exemplo, pelo recente "Serra pelada". É repetitivo, cíclico, sem graça, sem razão de ser. Poderia ter sido, também, um bom filme de ação. Mas não. Nem isso ele conseguiu. O final é inexplicavelmente ruim, afundando o filme de vez.

Não vá. Não há porquê.