Lucas Soares Lucas Soares 1/02/2016

A Primeira Liga é a pedra no sapato das federações e da CBF?

Na última semana, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vetou a realização da Primeira Liga (composta por 15 clubes do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio de Janeiro), sob argumento de que não estava autorizada no calendário oficial do futebol brasileiro para 2016.

É verdade que, desde que tiveram a intenção da montagem da liga, os clubes buscaram autorização dos órgãos legais esportivos e bateram com a cara na porta em várias oportunidades, principalmente na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), que é (era?) contrária a participação de Flamengo e Fluminense na disputa. Por arbitral, apoiado por todos os demais clubes da Primeira Divisão do futebol carioca, ficou decidido que os clubes perderiam a cota da televisão em caso de disputa da competição. Mesmo assim, a dupla entrou em campo - com autorização de "jogos amistosos."

Pois bem, apesar de muita gente ter torcido contra, a primeira rodada correu sem grandes problemas. É verdade que não tivemos públicos altíssimos, mas 30 mil torcedores para ver Atlético-MG e Flamengo em janeiro, em um "jogo amistoso", é considerado de grande ajuda. Fora que, no fim das contas, a Rede Globo acabou comprando os direitos de transmissão do primeiro jogo e exibiu as partidas na SporTV, na rede fechada.

Passada a disputa da primeira rodada - com a competição tecnicamente proibida a partir dali, a CBF voltou atrás e decidiu autorizar a disputa, novamente, como "jogos amistosos." Aparentemente, segundo informações de bastidores, a confederação sentiu que os doze clubes que hoje disputam (pelo sistema, três ficaram de fora desta edição) iriam adiante com o torneio e poderiam ser punidos. A Commebol - entidade que gere o futebol na América do Sul - já havia sido acionada e poderia tirar os clubes de competições oficiais, assim como a FIFA, que poderia aplicar sanções nestas equipes.

"Felizmente", pelo bem do futebol, a pressão dos clubes envolvidos deu certo. Ao não recuar, mostrou que quem realmente manda no futebol no Brasil são eles, os protagonistas do espetáculo. Não existe futebol profissional sem clubes e atletas profissionais. Então, de nada adiantaria uma punição em doze clubes - todos da Série A do Campeonato Brasileiro, organizado pela CBF - e perder um grande atrativo para este ano no Brasil. Imagina só: um Brasileirão sem Cruzeiro, Atlético, Grêmio, Internacional, Flamengo e Fluminense? Dos chamados doze grandes, seis seriam punidos e não disputariam o campeonato? Certamente os parceiros comerciais da CBF não gostariam de uma desordem deste tamanho.

Além disso, a Primeira Liga já mostrou que pretende ser nacional e incluir outros times, passando a negociar e fazer seu próprio campeonato e gerir seu próprio dinheiro - um sistema similar ao feito na Premier League, na Inglaterra. Não que isso tenha a garantia de que vá funcionar, mas a partir do momento em que se há uma Lei de Responsabilidade Fiscal no Esporte em vigor, sob pena de rebaixamento destes times, é um passo a mais para buscar diretamente os interessados em transmitir e anunciar pelo campeonato. Uma tendência de que seja feito tudo semelhante, em nome de todos os clubes, da forma mais razoável possível.

O que se pode afirmar é que estes clubes da Primeira Liga deram um passo gigantesco em busca da "virada" no nosso futebol. Pode ser que não dê certo, mas a expectativa é outra, totalmente diferente. Enquanto a CBF é investigada pelo FBI por corrupção e as federações impõem taxas absurdas para a disputa de cada partida, afastando o torcedor, uma união entre quem faz o espetáculo e quem assiste pode dar certo. É esperar pra ver...


Lucas Soares é natural de Juiz de Fora, jornalista formado pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora em dezembro de 2012 e pós-graduado em Jornalismo Multiplataforma na Universidade Federal de Juiz de Fora. Apaixonado por futebol e repórter no portal Acessa.com. Já atuou em veículos impressos da cidade, como assessor de imprensa na PJF e na Câmara Municipal e foi editor-chefe do blog Flamengo em Foco por dois anos e sete meses.

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