"Sonho em disputar a Série B pelo Tupi", diz Ademilson

Próximo do retorno da lesão que o afastou dos gramados há cinco meses, artilheiro e ídolo da torcida Carijó não marca data de aposentadoria

Lucas Soares
Repórter
15/08/2014

Difícil é achar um fã do Tupi, que não tenha admiração pelos feitos que o atacante Ademilson Correa (foto) alcançou com a camisa 9 do clube. Ídolo máximo da torcida, maior artilheiro do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, mais de 120 jogos pelo Galo Carijó e gols, muitos gols. Tantos que, nas palavras do próprio Adê, "fica difícil contabilizar."

Aos 39 anos, o artilheiro se recupera da pior lesão dos 19 anos de carreira: na vitória contra o Boa Esporte, em 5 de março deste ano, o jogador rompeu o tendão de Aquiles e está longe dos gramados desde então. Luta diariamente para voltar atuando em alto nível. "Tem que ter muita força de vontade pra superar a lesão. Eu nunca me machuquei gravemente, foi de 2011 pra cá que começou. A recuperação é a base de fisioterapia, academia e treinando sozinho.. Se deixar se abater, não volta. Quando machuquei o ligamento cruzado anterior do joelho, foram oito meses de recuperação e só fiquei cinco. Agora o tendão são outros oito meses, e com cinco meses já estou treinando, só dependo do médico liberar que eu volto a jogar. Treino forte e não estou sentindo mais nenhuma dor", afirma Ademilson.

Em fase final de recuperação, o atacante acompanha a Série C e se mostra confiante na inédita classificação do time para a Série B do Campeonato Brasileiro. "Pelos jogos que a gente fez, pelas equipes que eu vi jogar, nós temos condições de subir. Meu contrato vai até 30 de novembro de 2015, e quero entrar pra história do clube. Do grupo, só eu e Henrique (lateral direito) que disputamos a Série C e D. Quero disputar a B também", garante. Para alcançar o objetivo, Adê acredita que o apoio da torcida é fundamental. "Quando eu vejo torcedor indo para Ituiutaba (GO), 14 horas de viagem... Eu sabia que tinha que correr dobrado. Olha de onde o cara saiu pra ir ver o jogo! Eu me sinto motivadíssimo quando tem vários torcedores fora de casa. Dentro de casa, então, fica melhor ainda. O apoio é sempre importante. Nós jogadores nos sentimos motivados, sabendo que tem o torcedor que está junto nas piores horas, como foi em 2012. Eles tão sempre ali, nos apoiando", diz.

Segundo Ademilson, a torcida tem sido fundamental nos quase sete anos em que atua pelo Tupi. Em 2011, ano em que o clube conquistou a Série D, ganhou título de Cidadão Benemérito de Juiz de Fora e foi reconhecido no Mérito Esportivo Panathlon, pela contribuição ao esporte local. "Fiquei muito feliz pelas homenagens. Falo com a minha esposa que as pessoas daqui de Juiz de Fora me tratam melhor do que na minha própria cidade. Parece que eu sou daqui. São crianças, idosos, jovens. Onde me encontram falam comigo. Então a ideia é permanecer aqui, comprar uma casa e morar mesmo depois de parar. É gratificante esse apoio, esse carinho. Eu me empenho ao máximo pra fazer juízo e corresponder a altura dentro de campo. É o mínimo que um jogador de futebol tem que fazer quando recebe as homenagens é dar esse algo a mais durante os jogos", explica.

Carreira

A carreira de Ademilson, no entanto, nem sempre foi assim. Rodou por diversos clubes no Brasil antes de se encontrar e parar no Tupi. Começou no interior do Espírito Santo, em 1995, e só sete anos depois alcançou o reconhecimento nacional, quando chegou no Botafogo, em 2002. "Eu cheguei em um clube grande, com excelentes jogadores, craques da minha posição. Eu brigava por vaga com o Dodô, que dispensa comentários, um artilheiro nato. Tinha o Tailson, que é outro jogador fora do comum e outros que estavam estourando na base. Eu cheguei para procurar meu espaço, e consegui ser o titular absoluto e artilheiro da equipe", lembra.

Os problemas no clube carioca, no entanto, não demoraram a aparecer. "Fui para o Botafogo numa época ruim financeiramente, o Botafogo não pagava ninguém, foi o ano que o time foi rebaixado. Tinha época que a gente não treinava, não tinha salário, só ia para o jogo. Eu tinha dois anos de contrato com o Botafogo, joguei um ano lá e recebi um mês. As pessoas acham que um jogador ganha muito bem... Mas, se tem um patamar de vida, gasta. A partir do momento em que o dinheiro não está vindo, começam as dificuldades. Dá pra levar até certo ponto, mas chega um momento em que começa a afetar dentro de campo, as contas não param de chegar. Eu vivi essa situação no Botafogo, tinha o salário mas não recebia. Acabei entrando com uma ação na justiça contra o clube e ainda estou esperando. Fui pro Fluminense no ano seguinte, ganhava mais, mas vivi a mesma situação", comenta.

ademilson

No Tricolor Carioca, entretanto, Ademilson fez muitos gols e se destacou. Acabou sendo vendido ao futebol mexicano, onde atuou por dois clubes. "Cheguei ao Deportivo Irapuato, mas não deu muito certo. Tinha um outro atacante brasileiro, um argentino e um colombiano no time. Todos os três excelentes atacantes. Não tinha brecha pra conseguir jogar no ataque, então foi onde o treinador me colocou pra jogar de volante. Foi uma mudança e tanto. Fui titular jogando de volante. Sai desse time, fui pra outra equipe do México e joguei como atacante. E aí surgiu a oportunidade de ir pra Bélgica em 2004, onde acabei tendo um problema de comunicação com meu empresário e acabei voltando em 2005, para o Paysandu", conta.

Do Paysandu, até chegar ao Tupi em 2007, passou por Cianorte, Marília, Ituiutaba e Democrata de Governador Valadares. Atuou no Carijó até 2010, e "foi ali e voltou", como ele mesmo diz. "Fui pro Ipatinga, mas não pagavam ninguém e acabei saindo. Cheguei ao Uberlândia, mas ia ficar parado porque a federação não fez a Taça Minas naquele ano. Acabei voltando ao Tupi e nunca mais sai", afirma.

Experiência

Jogar futebol profissionalmente por 19 anos rendeu a Ademilson uma enorme bagagem profissional e muita experiência. Histórias que ele pretende passar para novas gerações. "Eu pretendo trabalhar com o pessoal da base do Tupi quando parar. Acho que posso passar isso a eles. Aprendi quando estava começando que tem que treinar forte, ter dedicação. O corpo acostuma, eu não faço força pra treinar. São anos e anos treinando. Eu sei que não vou ficar mais veloz, então é não perder o que eu já tenho. Tem que se dedicar ao máximo, não dá para misturar noite com futebol", comenta.

Ao falar dos ídolos da profissão, Ademilson se recorda de dois jogadores que atuaram ao seu lado em sua passagem pelo futebol do Rio de Janeiro. "Eu tive a felicidade de jogar com o Romário no Fluminense. É indiscutível, principalmente dentro da área. O Dodô também, que ficou ao meu lado no Botafogo. O Dodô me falava que quando eu estou dentro da área, eu tenho que proteger a bola. O zagueiro não vai me bater porque ele sabe que é pênalti. Com o Romário aprendi a escolher o canto, bater forte de chapa. O Romário errava consciente. Ele mirava no canto e chutava. Isso eu só aprendi depois de velho. Tem que errar consciente, e não chutar por chutar. E assim comecei a fazer mais gols", ensina.

Como não passou por categoria de bases, Adê considerou estas e outras dicas fundamentais para ser o centroavante que é hoje. Entre conselhos de jogadores e técnicos, deixou de ser o atacante que joga pelos lados para ser o central." Antes eu era atacante de berada, não era referência. Aí com o Moacir Júnior, no Tupi, ele me colocou como centroavante e eu não queria. Ele falava pra eu ficar na área porque ali eu ia fazer os gols. E hoje não sei mais jogar fora, até pela idade. Mas dentro da área eu já sei o que tenho que fazer", garante.


Fotos: Arquivo Pessoal/Ademilson

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