Tentativas de fraudes batem recorde em 2012. Saiba como evitar

Os setores de serviço e telefonia lideraram os registros de fraude e, somente no ano passado, mais de 2,14 milhões de pessoas foram vítimas

Nathália Carvalho
Repórter
23/1/2013
Cartão de crédito

A tentativa de fraude, mais especificamente o roubo de identidade, em que dados pessoais são usados por criminosos para obter crédito com a intenção de não honrar os pagamentos, ou fazer um negócio sob falsidade ideológica, tem crescido no Brasil. Dados comprovam que mais de 2,14 milhões desses tipos de fraude foram registradas entre janeiro e dezembro do ano passado, número recorde no período. Isso significa, conforme dados do Serasa Experian, que a cada 14, 8 segundos algum consumidor do país é vitimado. Em 2010, foram 1,87 milhão e, em 2011, foram 1,96 milhão no mesmo período.

E os casos em que as pessoas se apresentam como vítimas desse tipo de crime são muitos. Apesar de não existirem dados específicos que contabilizem esse tipo de ação em Juiz de Fora, consumidores relataram ao Portal ACESSA.com seus problemas com clonagens e falsidades ideológicas. Em 2004, a gerente financeira Leandra Cunha teve sérios problemas com sua conta de telefone. Ela lembra que foi passar 15 dias de férias no Sul do país e, ao retornar de viagem, veio a surpresa no valor da conta. "Estavam nos cobrando ligações realizadas para o exterior, sendo que naquele período nem estávamos em casa. O valor real era uns R$ 400 e estavam cobrando mais de R$ 1.200. Fomos obrigadas a pagar para não termos problemas, e entramos na justiça", conta.

Segundo ela, foram seis anos de luta judicial para conseguir reaver o valor, sendo necessário comprovar que elas estavam de férias e que, com isso, não teriam como realizar as ligações. "Nós só ganhamos a ação porque mostramos contas de hotel e avião. Fomos ressarcidas sem correção e ainda tivemos prejuízo, por conta dos gastos com advocacia." Leandra relembra que sempre vivenciou situações semelhantes, por ter trabalhado muitos anos em bancos, e agora estar em uma cooperativa de crédito específica para a área de saúde. "Já tive também meu cartão de supermercado clonado, mas esse foi mais fácil de resolver. No trabalho, os casos são muitos e atingem valores muito altos. Já registramos fraudes em caixas de mercados e postos de gasolina, e essas situações são muito frequentes", conta.

Problema semelhante foi vivido pela supervisora administrativa Aline Duarte, que teve seu cartão de crédito sob suspeita de fraude há cerca de duas semanas. "Me ligaram do banco avisando que tentaram comprar com meu cartão em São Paulo, com um valor muito acima do limite mensal. Como aquilo havia saído do meu perfil de compra, o cartão foi bloqueado", explica. Segundo ela, foi informado que o golpe pode ter sido aplicado no momento da utilização do cartão on-line. "Tenho um hábito intenso de comprar coisas pela internet e, nesses espaços, somos obrigados a fornecer documentos pessoais e números de sigilo do cartão, que podem ser clonados", diz.

Ranking de fraudes

De acordo com o Serasa, os setores de serviço e telefonia lideraram os registros de tentativa de fraude em 2012. O primeiro, que inclui seguradoras, construtoras, imobiliárias e serviços em geral (pacotes turísticos, salões de beleza etc.), teve 746.318 registros, o correspondente a 35% do total. O setor de telefonia assumiu a liderança em 2012, com 749.213 casos de tentativas de fraude. Além disso, o órgão aponta que houve queda nas tentativas de fraude nos bancos (18% em 2012; 26% em 2011 e 28% em 2010), por conta da retração na procura por crédito, e um crescimento em telefonia e serviços. A popularização da internet e das mídias sociais é apontada como um fator impulsionador desse tipo de ação criminosa.

Para a advogada membro da Comissão de Direito do Consumidor, Fernanda Reis, em boa parte dos casos, a fraude somente acontece em razão da atuação das empresas, que não adotam os cuidados necessários no momento da contratação. "Não solicitam a apresentação de um documento, não conferem assinaturas e não checam informações. Atualmente é comum, por exemplo, a contratação de serviços apenas informando o número de RG e CPF, sem nunca apresentá-los a empresa com a qual se está contratando." Além disso, ela destaca que é dever do fornecedor do produto ou serviço ter certeza quanto a identidade daquele com o qual está celebrando um negócio. "Contratações fraudulentas trazem enormes prejuízos e constrangimentos para o indivíduo. Via de regra, elas acabam gerando a inclusão de seu nome e CPF em cadastros de restrição ao crédito e o consumidor só vem a tomar conhecimento desse fato ao lhe ser negada a concessão", diz.

Dicas de prevenção

De acordo com o superintendente do Procon, Nilson Ferreira Neto, a principal medida do consumidor para evitar esse tipo de fraude é ter muita cautela na hora de guardar o documento. "Não podemos deixar os cartões fora da nossa vista, seja em bancos ou na hora que formos realizar compras. Se o vendedor sair de perto com o cartão, vá atrás e sempre desconfie", sugere. Ele lembra a importância do código de segurança que vem no verso do cartão e que pode ser usado para realizar compras na internet sem a necessidade de senha.

Outra dica é para o uso em caixas eletrônicos. A estudante Mariana Benicá, por exemplo, foi vítima de golpistas que atuam desta maneira. "Fui usar meu cartão de conta poupança para realizar um saque e, durante a transação, a máquina deu um erro e a tela ficou escura. Fui para outro terminal e não desconfiei a princípio. Dias depois, recebi uma ligação do banco informando que meu cartão havia sido clonado e que estavam tentando comprar com ele na Zona Norte da cidade", conta. Nesse sentido, Neto orienta para que os consumidores fiquem atentos a qualquer dificuldade de utilização de máquinas digitais e caixas. "É necessário cuidado redobrado nesses espaços".

  • Confira dicas de segurança na internet

- Não fazer cadastros em sites que não sejam de confiança; cuidado com sites que anunciam ofertas de emprego ou promoções. Fique atento às dicas de segurança da página, por exemplo, a presença do cadeado de segurança;

- Cuidado com dados pessoais nas redes sociais que possam ajudar os golpistas passarem por você, usando informações pessoais, como signo, modelo de carro, time pelo qual torce, nome do cachorro etc.;

- Manter atualizado o antivírus do seu computador, diminuindo os riscos de ter seus dados pessoais roubados por arquivos espiões.

Fui vítima, e agora?

Quando for vítima de roubo, perda ou extravio de documentos, a primeira medida pode ser procurar a Polícia Militar (PM) para registrar o boletim de ocorrência. Dependendo do problema, o consumidor deve procurar o Procon para consultar o que pode ser feito. "Como é a empresa que está realizando a transação, é dever dela se responsabilizar por qualquer roubo de identidade. Independente da prova de culpa, nos baseamos na teoria do risco que sites, bancos e empresas de telefonia, por exemplo, adotam", explica Neto.

Outra medida pode ser o cadastramento na base de dados da Serasa. Sempre que ele for consultado, o concedente de crédito saberá que se trata de um documento roubado e terá mais cuidado ao fechar um negócio. O consumidor pode, ainda, consultar o seu CPF em uma das agências da Serasa ou obter outras informações pelo site www.serasaconsumidor.com.br.

Os textos são revisados por Juliana França

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