Juiz de Fora recicla apenas 3% do lixo Demlurb afirma que coleta seletiva atende a 43% dos juizforanos. Reciclagem do lixo poderia contribuir para aumento da vida útil do aterro sanitário

Guilherme Arêas
Repórter
20/5/2009

Implantada há 16 anos, a coleta seletiva ainda é uma realidade distante para a maioria dos juizforanos. Muitas vezes são jogados fora objetos que poderiam se transformar em dinheiro ou em novos produtos, através da reciclagem. Mas nem a crescente preocupação com as questões ambientais fez com que a atitude ecologicamente correta para a destinação final do lixo ganhasse força na cidade nos últimos anos. Das cerca de 440 toneladas de resíduos recolhidas diariamente em Juiz de Fora, apenas 3% são destinadas à reciclagem. Em 2008, o papelão correspondia a mais da metade dos materiais reciclados em Juiz de Fora, seguido por papel misto, plástico duro e garrafas pet.

Desde o ano passado, quando passou a Usina de Reciclagem de Nova Benfica para a Associação Municipal dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis de Juiz de Fora (ASCAJUF), a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora (PJF) não tem o controle sobre a destinação dos recicláveis. Os três caminhões de coleta seletiva do Departamento de Limpeza Urbana (Demlurb) realizam rotas diárias em quase todos os bairros da cidade. De acordo com o órgão, 43% da população é atendida pelos caminhões da coleta seletiva.

Em meio à discussão sobre a vida útil do aterro sanitário do Salvaterra e a implantação do novo aterro de Dias Tavares, a reciclagem do lixo doméstico em Juiz de Fora é apontada como uma das alternativas para evitar o estrangulamento do sistema. "Quanto maior for a reciclagem, menor o destino final do lixo, desafogando assim os nossos aterros", defende o diretor do Demlurb, Aristóteles Faria. A ampliação da coleta seletiva está nos planos da PJF, mas deve começar somente após o período de reestruturação, quando o órgão espera concluir a locação de 12 novos caminhões para o Demlurb. Dos novos equipamentos, não há previsão de aluguel ou compra de caminhões para a coleta seletiva. Enquanto isso, a sociedade civil ainda é a principal entidade engajada na reciclagem em Juiz de Fora.

Iniciativas

Desde 2005 os moradores de um condomínio do bairro São Pedro realizam a separação do lixo. Enquanto o caminhão compactador comum recolhe os resíduos orgânicos às terças, quintas e sábados, a coleta dos materiais recicláveis é feita às segundas e sextas. Conforme o supervisor administrativo do condomínio, Vitor Eduardo Lorang, a adesão chega a 80% dos moradores. "Os associados fazem essa separação sem qualquer problema. É difícil conseguir 100% de adesão, mas as pessoas têm uma consciência muito grande em relação a isso."

Em 2007, o condomínio onde mora a professora universitária Anna Maria Godinho, no Alto dos Passos, também iniciou os cuidados com a separação. Após a visita do Setor de Educação Ambiental do Demlurb, os moradores foram orientados a separar o lixo orgânico do reciclável. A iniciativa foi adotada por alguns moradores inicialmente, mas com o tempo a coleta deixou de ser feita. "Nós começamos a perceber que todo o lixo era recolhido da mesma forma. Até hoje eu não vejo caminhão de coleta seletiva passar por aqui", comenta. O que era para ser um exemplo para outros condomínios virou uma atitude isolada da professora, que acabou desistindo de separar o lixo. "Os moradores estão dispostos a fazer a separação, mas o caminhão tem que passar regularmente."

Esta disposição é o que faz com que os números da reciclagem em Juiz de Fora não sejam ainda menores. Entre as principais entidades que se mobilizam para que o lixo tenha o destino adequado, cerca de 90% são escolas e empresas privadas. Logo em seguida aparecem os condomínios residenciais. "Sempre que alguma escola recebe palestra sobre reciclagem, realizada pelo departamento de Educação Ambiental do Demlurb, a comunidade ao redor se interessa em separar o lixo e a reciclagem naquela região aumenta", constata Aristóteles. Para o diretor, a ampliação da coleta depende de conscientizar as comunidades.

Para agendar a participação no programa de palestras sobre reciclagem, as escolas, empresas e comunidades interessadas devem entrar em contato com o setor de Educação Ambiental do Demlurb, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h30, através do telefone (32) 3690-3571. Os usuários do serviço de coleta de lixo também podem conferir, no site do órgão, os dias e horários em que a coleta é feita em cada bairro. Para que alguma rua, empresa, escola ou condomínio entre para a rota da coleta seletiva, o contato é o (32) 3690-3501.

Crise afeta catadores

O principal braço do tímido sistema de reciclagem de Juiz de Fora, o catador, é afetado diretamente pela crise econômica mundial. Como as grandes empresas diminuíram ou até interromperam a compra de recicláveis, as cooperativas tiveram que abaixar os preços dos materiais comprados dos catadores. O preço do alumínio, que chegava a ser comprado por R$ 3,80 o quilo, não vale agora mais do que R$ 1,20. A mesma desvalorização atingiu outros materiais recicláveis, como o papelão, que era comprado por R$ 0,20 e, com a crise, passou a valer R$ 0,07.

Como o negócio se tornou pouco atrativo, o número de catadores caiu. Os dados de 2007 registram cerca de 400 catadores de material reciclável em Juiz de Fora. Porém, na Catanorte, uma das principais cooperativas de Juiz de Fora, dos 17 catadores que realizavam o trabalho de coleta nos bairros Milho Branco e Jardim Natal, restaram apenas 12. O preço pago pelos materiais também foi o fator que levou os trabalhadores a abandonarem a profissão. "Antes os catadores ganhavam um salário e meio por mês. Hoje, não conseguem tirar mais do que meio salário mínimo", revela Rosane Villanova Borges, presidente da Casamundo, ONG que auxilia o trabalho da Associação Catanorte.

O cenário de crise afetou também o trabalho dos 16 catadores da Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (Apares). A presidente da associação, Flávia Helena Dias da Silva, confirma que a renda atual do catador na cidade gira em torno de meio salário mínimo. "Essas pessoas vivem exclusivamente desse trabalho. É muito difícil viver assim."

Para o diretor do Demlurb, a questão dos catadores deve ser encarada como uma política de assistência social. "A Prefeitura está encarando desta forma. Não basta apenas dar o apoio para a coleta. Temos que dar um apoio de sustentação psicológica, social e até de alimentação."

A assistência é oferecida através dos Centros de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), que atende a população de rua e os catadores de materiais recicláveis em situação de vulnerabilidade. A coordenadora executiva de Proteção Especial da AMAC, Cris do Vale, explica que a instituição oferece cursos de capacitação aos catadores, além de orientar os trabalhadores sobre os programas de assistência social dos quais eles podem se beneficiar. "O objetivo é ajudar a aumentar a renda dos trabalhadores. Este ano já realizamos seis oficinas nas associações, temos 13 catadores inscritos no programa ProJovem e algumas famílias no Bolsa Família", exemplifica a coordenadora.

Já para os catadores e cooperativas, além da assistência social, o trabalho deve ser tratado como política de geração de novos empregos, já que o número de catadores que abandonam a profissão e se envolvem em atividades ilícitas aumenta em Juiz de Fora. "A crise econômica tem levado a um grande abandono", avalia a presidente da Casamundo.

Reciclagem pode aumentar vida útil do aterro

Em meio às acaloradas discussões sobre a vida útil do aterro do Salvaterra e a construção do novo empreendimento em Dias Tavares, os ambientalistas garantem que a coleta seletiva seria a saída mais inteligente para resolver o esgotamento do sistema de resíduos enfrentado por Juiz de Fora.

Gerente industrial do Demlurb entre 2001 e 2004, Giancarlo Castegliani defende a volta do programa da Rota Verde. A iniciativa contava com sete caminhões coletores e chegou a recolher 25 toneladas de materiais recicláveis por dia em Juiz de Fora. O ex-funcionário do Demlurb garante que a produção média diária de lixo que vai para o aterro poderia chegar a 350 toneladas, caso o sistema de coleta seletiva fosse ampliado. "Em 1999, a cidade produzia 420 toneladas de lixo todos os dias. Em 2004, após o programa Rota Verde, o aterro passou a receber 326 toneladas por dia."

Para Giancarlo, as falhas da última administração municipal fez com que a quantidade de lixo levada para o aterro de Salvaterra voltasse a patamares mais elevados. "Quando falamos em educação ambiental, adotamos a teoria dos três Rs: reduzir, reeducar e reutilizar. Quanto mais pudermos reduzir o nosso lixo e reaproveitar os materiais em casa, menores serão os impactos ambientais."

Até o final da década de 90, Juiz de Fora realizava a coleta seletiva em cerca de 90 bairros. Em 1998 a cidade chegou a ter 44 postos de coleta. Nos contêineres dotados de quatro compartimentos (vidro, metal, papel, plástico), a população depositava os materiais a serem reutilizados.

Como reciclar?


São as embalagens plásticas de refrigerantes (PET), brinquedos, frascos de xampus e desodorantes, sacos e sacolas plásticas, potes de iogurte. Devemos antes de tudo lavá-las muito bem, para evitar resíduos orgânicos ou químicos.

Leva 450 anos para se decompor.



Separe cacos de vidro, potes e frascos de alimentos, copos, vasos, vasilhames e garrafas. Para a segurança de todos, esses materiais devem ser acondicionados em caixas ou em folhas duplas.

Leva 4 mil anos para se decompor.



Produtos de cobre, ferro e zinco são recicláveis e possuem um razoável valor comercial. Latas de bebidas e embalagens metálicas devem ser amassadas para diminuir o volume e facilitar o manuseio.

Leva de 200 a 500 anos para se decompor.



Separe os jornais, revistas, caixas de papelão, embalagens Longa Vida e folhas de caderno. É fundamental que estejam limpos e livres de gordura ou outros resíduos.

Leva 6 meses para se decompor.


                                                                                                 Os textos são revisados por Madalena Fernandes