Paulo César Paulo César 19/11/2011

Drama insosso marca a primeira parte de Amanhecer


Na primeira parte do derradeiro capítulo de uma das sagas mais prestigiadas dos últimos os tempos, a adaptação do romance de Stephane Meyer, Crepúsculo, nem a condução de Bill Condon (Dreamgirls) consegue enriquecer e dar sentido, que não seja pretensão monetária, para que Amanhecer fosse dividido em duas partes. Com um roteiro que traz uma narrativa pobre, dando maior enfoque a trivialidades e esquetes de humor baratos, o filme nada mais é que uma preparação desnecessária para o esperado fim da série, prevista para 2012.

Em Amanhecer, Bela (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson) se casam e vão passar a lua-de-mel no Rio de Janeiro. Quem assistir ao filme no áudio original poderá observar Edward arranhar um bom português. Mas quando eles descobrem a inexplicável gravidez da jovem, os Cullen têm de se preocupar com a integridade da mãe e também com a do bebê, que está sendo ameaçado de morte pelos lobos.

A adaptação, precária desde o primeiro longa da saga, se mostra absolutamente mais vaga nesse capítulo. Novas e estranhas situações distanciam ainda mais a mística criada por Bram Stoker. Um vampiro sendo pai é, no mínimo, algo que tira qualquer um defensor da tal licença poética do sério. Apesar disso, este é menor de seus problemas. Não há uma evolução durante quase todo o filme, que está visivelmente segurando a batuta para que se torne inevitável uma segunda parte. Diferentemente de Harry Potter e as Relíquias da Morte, também dividido ao meio, que tinha um roteiro consistente, Amanhecer poderia condensar a primeira metade em 40 minutos, que não prejudicaria o fluxo da história.

A presença de Bill Condon na direção, depois de bons trabalhos em Dreamgirls (2006), Kinsey (2004) e Deuses e Montros (1998), acenava para um ritmo mais intenso e para uma valorização maior da sensualidade, entretanto, o diretor não mudou em nada o panorama modorrento. Trocou o tom de aventura teen dos três primeiros, para um draminha insosso, talvez o maior erro do filme. Qual o sentido de amadurecer uma trama que terá como público-alvo adolescentes? De bom mesmo, só uma fotografia competente e uma brilhante maquiagem, que chega a ser assustadora na forma como transforma Kristen Stewart em uma mulher horrível e esquelética durante a gestação de Bela.

Pattinson parece um caso sem solução, não consegue passar nenhum tipo de expressão a Edward. No amanhecer do personagem para um mundo adulto (apesar de ele já passar dos cem!), o ator parece um ser sem alma de artista. Stewart mostra até certa desenvoltura quando passa a ser a mãe debilitada, seus únicos momentos de genuína atuação em toda sua trajetória. Taylor Lautner, que até se saiu bem nos dois filmes anteriores, caiu na mesmice ao manter os mesmos trejeitos do menino lobo, sem qualquer evolução.

O mais interessante de tudo é imaginar que tudo isso passará despercebido do grande público que continuará a lotar as salas de todo o mundo. Entender como um filme que mostra de maneira superficial a relação de amor entre uma humana e um vampiro se tornou um hit é tão difícil quanto engolir alguns dizerem que é uma forma sublime de mostrar que todos podem se amar, apesar das diferenças. É virar as costas para o genial e original Drácula de Bram Stoker dirigido por Coppola. Só entende mesmo quem associa o sucesso do filme ao fato de Malhação ainda continuar no ar todas as tardes.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.