Segunda-feira, 23 de agosto de 2010, atualizada às 18h23

Juiz de Fora terá diagnóstico sobre população de rua

Clecius Campos
Repórter

Juiz de Fora terá um diagnóstico sobre sua população de rua. A partir de setembro, os estudos serão realizados pela Secretaria de Assistência Social (SAS), em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que disponibilizará os alunos. O anúncio foi feito pela titular da SAS, Silvana Barbosa, em audiência pública realizada na tarde desta segunda-feira, 23 de agosto.

O levantamento é clamor frequente da comunidade, que enfrenta preconceito por ser confundida com marginais. A representante do Movimento Nacional da População de Rua, Vera Lúcia de Assis, afirma que é preciso conhecer os moradores de rua. "A comunidade e o poder público têm que separar as coisas. Sou catadora de papel em Juiz de Fora há 20 anos e sei quem são as pessoas que vivem da rua e os marginais que se dizem moradores de rua. Por falta dessa separação, o antigo Centro de Moradores de Rua, que virou Creas [Centro de Referência de Assistência Social], perdeu a identidade."

Segundo Vera, o local, onde antes havia cursos de capacitação, é ponto de encontro de pessoas mal-intencionadas. "Foi tudo por água abaixo. Não temos mais a biblioteca nem o museu. Vamos dar comida, mas também mostrar deveres e obrigações. Daremos trabalho. O que o morador de rua quer é resgatar a dignidade. Este é o caminho."

A promessa de um diagnóstico irritou o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, grupo que propôs a audiência, Flávio Cheker. "Há mais vontade, expectativa e desejo de solução que propostas concretas. Falta a radicalização da Prefeitura no sentido de injetar recursos na Assistência Social. Há vontade política, mas falta articulação."

Tangente à discussão em Juiz de Fora, o Fórum Estadual Lixo e Cidadania já se adiantou. Até o fim do ano, o grupo pretende publicar um diagnóstico da população de rua de Juiz de Fora. O estudo engloba ainda outras cidades polo de Minas Gerais. A representante do Fórum Estadual Lixo e Cidadania, Darklane Rodrigues Dias, ressaltou a necessidade de conhecer quem é quem. "Há grande proximidade entre a população de rua e os catadores, mas a catação está em outro patamar, graças à capacitação e ao acolhimento em galpões e centros de triagem. A política deve ser transversal. As secretarias têm a necessidade de conversar e articular as políticas com os demais atores e conhecer esses atores."

Programa de Saúde Mental

O psiquiatra e professor da UFJF, Uriel Heckert, acredita que as ações de abordagem e acolhimento de moradores de rua só são viáveis diante de uma proposta que envolva o tratamento da saúde mental da população. Sua tese de doutorado gerou o Programa de Saúde Mental para a População de Rua, que expõe a necessidade de acompanhamento específico para os moradores. "Os recursos habituais são insuficientes para atender a demanda dessa população. Em parceria com o Hospital Universitário e a AMAC [Associação Municipal de Apoio Comunitário], constatamos muitos problemas de saúde mental nesta população, seja pelo consumo abusivo de álcool e drogas ou pela própria situação em que os moradores de rua se encontram."

O gestor de Saúde Mental da Prefeitura, José Eduardo Amorim, afirma que é preciso cautela, para diagnosticar distúrbios mentais na população de rua. "Devemos ter cuidado no sentido de não querer esgotar interrogações em poucas palavras e explicações." Ele assumiu que há percentual significativo de moradores de rua com problemas mentais, mas afirmou que a porcentagem não é maior que em qualquer grupo de pessoas. "Em breve, estaremos com um projeto chamado Consultório de Rua, em que daremos assistência também a essa população."

Centro de Triagem

A construção do Centro de Triagem para Catadores de Resíduos Sólidos também foi assunto da audiência. Enquanto Silvana valorizava a captação de recursos do Banco do Brasil no valor de R$ 210 mil, Cheker criticava a demora no processo de instalação. "O Banco do Brasil já liberou R$ 90 mil para iniciar a obra. Há o terreno, há o investimento. Onde está o Centro de Triagem?", questionou.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken