Violência entre jovens: Brasil vive 'epidemia de indiferença', diz estudo
No último mês, dediquei este espaço a uma breve reflexão sobre os constantes enfrentamentos de jovens em Juiz de Fora. Brigas que têm como autores e vítimas adolescentes moradores, principalmente, de bairros pobres da cidade. Tamanha foi a repercussão do artigo que me vejo novamente às voltas com esta temática. Almejo, unicamente, questionar, inquietar. Ao menos o texto publicado em agosto parece ter alcançado este objetivo, tendo em vista as inúmeras manifestações que recebi: elogios, críticas, perguntas. Neste mês, aproveito para expor alguns dados acerca do uso de drogas e da violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Não vou me alongar. São informações para refletir e, principalmente, motivar a ação.
Em uma lista de 92 países, apenas El Salvador, Venezuela e Guatemala apresentam taxas de homicídio maiores que a do Brasil - 44,2 casos entre 100 mil jovens de 15 a 19 anos. O número faz parte da edição 2012 do Mapa da Violência, estudo elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. O resultado da pesquisa alerta para o fato de estarmos vivendo uma "epidemia" da violência infanto-juvenil. Trecho da publicação explicita: "O Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de 'epidemia de indiferença', quase cumplicidade de grande parcela da sociedade, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade social. Isso ocorre devido a certa naturalização da violência".
Nas comunidades onde as desigualdades são maiores, o problema da juventude se coloca de maneira mais clara, mais agressiva, comprometendo o futuro do país. Os jovens, em especial aqueles negros, moradores das periferias, favelas e subúrbios brasileiros, estão no centro do problema da violência, seja como vítimas, seja como protagonistas. É o que reforçam os dados do Ministério da Saúde: 53% dos homicídios registrados no país vitimam pessoas jovens. Destas, mais de 75% são negras. Além disso, enquanto as mortes de jovens brancos caíram de 9.248, em 2000, para 7.065, em 2010, o índice de morte de jovens negros cresceu de 14.055 para 19.255 no mesmo período.
Por fim, outro dado preocupante e que tem estreita relação com a violência entre jovens: o Brasil é o maior mercado mundial do crack e o segundo maior de cocaína, segundo constatou o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo. O estudo ouviu 4,6 mil pessoas com mais de 14 anos em 149 municípios do país, ao longo do ano passado. Os resultados indicam ainda que o Brasil, lamentavelmente, representa 20% do consumo mundial do crack. De acordo com o relatório, cerca de 4% da população adulta brasileira, 6 milhões de pessoas, já experimentaram cocaína alguma vez na vida. Entre os jovens de 14 a 18 anos, 44 mil admitiram já ter usado a droga. Em 2011, 2,6 milhões de adultos e 244 mil adolescentes confirmaram a dependência em cocaína.
Os dados estão aí. Os números falam por si. Como jornalista, profissional da Comunicação, sempre estudamos e defendemos que a informação é uma necessidade social. O indivíduo sabedor do que se passa em sua sociedade poderá, ao menos em tese, conscientemente tomar suas decisões e fazer suas escolhas a respeito dos assuntos que lhes dizem respeito. Ter informação é quesito fundamental para o exercício da cidadania. E então? Ante o atual contexto que envolve a juventude, o que você pode fazer? O que nós podemos fazer? A começar pelo bairro, pela escola? Sempre acreditei, e ainda persisto, que as grandes mudanças são desencadeadas pelas pequenas ações.
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Aline Maia é jornalista e professora universitária. Graduada e Mestre em Comunicação pela UFJF, tem experiência em rádio, TV e internet. Interessa-se por pesquisas sobre televisão, telejornalismo, cidadania e juventude.Também é atuante em movimentos populares e religiosos.
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