O esclarecimento ainda tem poder de desencantar o mundo?

Nome do Colunista Jungley Torres 8/08/2019

Tendo por base o pensamento de Adorno, expoente da chamada Escola de Frankfurt, a proposta deste breve artigo da presente coluna é de pensar o esclarecimento e suas condições de possibilidade ao desencantamento de mundo. Reconhecendo que sistematizar o pensamento de Adorno é desafiador, pois corre-se o risco de despotencializá-lo. Adorno escreve em forma de aforismos, de fragmentos e de ensaios.

Questionado por contemporâneos seus de 1783 o que seria o esclarecimento, Kant respondeu: É a saída do homem de sua menoridade (...) Sapere aude! O que implica ao ser humano em ter coragem, ousadia e intrepidez de fazer uso de teu próprio entendimento. Tal é o lema do esclarecimento. Livrar o homem do medo e investi-lo na posição de senhor, desencantar o mundo: eis a tese que nunca se realizou, nem nos tempos das luzes, muito menos nos tempos das cinzas. O mundo continua encantado pelo mito, falsos discursos, propagações ilusórias e teorias falaciosas.

Após esse breve “pano de fundo” e prelúdio introdutório da temática, Adorno objetiva mostrar, de várias maneiras, por diferentes manifestações históricas da racionalidade humana, que quanto mais o esclarecimento “iluminou“ a terra, mais ela foi mostrando as amarras menos visíveis que a ligavam à dominação, a não-verdade. A autodeterminação dos povos, a liberdade universal, instrumentos fundamentais da burguesia para conquistar o poder, voltaram-se contra a mesma burguesia tão logo se vê forçada, enquanto sistema de dominação, a recorrer à força (autoritarismo) para se preservar.

Numa era pragmática na qual nos inserimos o saber só tem valor se for operacional, se produzir valor de mercado. O amor à sabedoria, o entusiasmo pela verdade das coisas e dos acontecimentos que levaram os pensadores e os educadores a criarem suas inquietadoras filosofias e pedagogias são inúteis e suspeitos. A lógica formal e o procedimento matemático se tornaram o cânon da intelligentzia esclarecida para calcular o mundo e unificá-lo através da padronização.

Com a propagação da economia mercantil burguesa, o horizonte sombrio do “mito” é aclarado pelo sol da razão calculadora, sob cujos raios apáticos amadurecem a sementeira da nova barbárie. Com o abandono do pensamento crítico e sua transformação em produções coisificadas o esclarecimento abdicou de sua própria realização.

O caminho crítico para se pensar o mundo por via realística, se assim podemos dizer, é a educação enquanto “arma” e/ ou ferramenta imprescindível à sociedade e o seu desenvolvimento de pensamento autônomo. A educação como produção de uma consciência verdadeira é, para Adorno, uma exigência política, pois, uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas operar conforme seu conceito demanda pessoas emancipadas/ autônomas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado. A educação não se limita ao interior da sala de aula ou aos conteúdos programáticos, mas manifesta-se na sociedade, em cada cidadão que é fundamentalmente parte integrante de um regime democrático, ela contribui para o desenvolvimento das potencialidades de seus membros e culmina na emancipação e ao pensamento autônomo e crítico.  

# Pensemos!

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